Opinião

Música | Precisamos muito de Aimee Mann

20 abr 2022 07:30

Queens of the Summer Hotel: que disco e que conjunto de canções e que história

Perante dias confusos em que ainda se tenta recuperar das consequências de uma pandemia enquanto a guerra aqui ao lado e o disparo dos custos energéticos já nos estão a mostrar que ser pessimista é, na verdade, mais prudente do que ser realista, precisamos cada vez mais de momentos de contemplação, de empatia e de paz interior.

Há já vinte e dois anos lembro-me de ter ficado completamente arrebatado por um filme e, sobretudo, pela sua banda sonora. Magnolia, de Paul Thomas Anderson, com a interpretação soberba de Philip Seymour Hoffman e a banda sonora seminal de Aimee Mann. Temas como “One”, “Save Me”, “Wise Up” ou “Momentum” têm sido companhias recorrentes ao longo das minhas últimas décadas e, curiosamente, os trabalhos que se têm seguido de Aimee Mann também. É certo que nunca mais conseguiu repetir ou chegar perto da explosão comercial que havia conquistado com a banda sonora de Magnolia mas já conta com mais oito discos neste período, dois deles com direito a Grammy.

Fui seguindo aqui e ali mas o penúltimo Mental Illness voltou a mostrar-me porque é que a Aimee Mann é um dos maiores nomes na minha constelação musical e só há semanas dei com o seu novo disco Queens of the Summer Hotel, e que disco e que conjunto de canções e que história… Ora então, depois de sair de um trabalho profundamente mergulhado no universo da doença mental, como o próprio título indicava, Aimee Mann usa como base para a narrativa e para as canções do seu último disco o livro de memórias de Susanna Keysen, aquando da sua institucionalização no McLean Hospital com o diagnóstico de perturbação borderline. Memórias essas que já tinham dado origem a uma adaptação cinematográfica protagonizada por Winona Ryder no final dos anos noventa, Girl, Interrupted.

Enquanto pegava na história, ia também trocando ideias e cumplicidades com um conjunto de produtores que estavam a trabalhar a adaptação de Girl, Interrupted num musical. O que realmente fica é que Queens of The Summer Hotel é um punhado de canções com arranjos e orquestrações irrepreensíveis que tanto se inspiram em Burt Bacharach como em Debussy e depois, as letras e a voz de Aimee Mann levam tudo para uma dimensão única. De paz, de contemplação, de empatia. A ideia, o caminho, a concretização, o resultado. Está tudo certo aqui. E, cá para mim, precisamos cada vez mais de Aimee Mann.