Opinião

Música | Lee Hazlewood

16 fev 2024 09:00

Se crescemos a ouvir música de Nick Cave, Pulp, Tindersticks, Nirvana ou Sonic Youth, devemos muito a Lee

Sombra de sucessos de Duane Eddy, Frank ou Nancy Sinatra, apadrinhou Phill Spector ou Gram Parsons, criou duas editoras, foi transformando o seu formato de canção e a forma de cantar histórias, inovou como muito poucos nas técnicas de produção e gravação, Lee Hazlewood é, ainda assim, um quase desconhecido para a generalidade do público e, inclusivamente, de muitos melómanos.

Estou convencido que se crescemos a ouvir música de Nick Cave, Pulp, Tindersticks, Nirvana ou Sonic Youth, devemos muito a Lee, que, juntamente com Scott Walker e Serge Gainsbourg, podiam ter sido “três mosqueteiros” na revolução operada entre os anos sessenta e os anos dois mil, na forma de escrever, gravar e interpretar canções.

“Rebel Rouser”, “These boots are made for walkin'”, “Some Velvet Morning” ou “Summer Wine” são apenas alguns dos inúmeros clássicos que Lee Hazlewood foi criando e gravando. Desde crooner e cowboy solitário a arranjador imprevisível e sofisticado, Lee nunca procurou ser consensual, nunca deixou de provocar, nunca se agarrou a uma fórmula de sucesso (e teve várias) e nunca deixou de explorar novas técnicas de gravação, de produção e de composição.

Quando lhe perguntaram o que o inspirou a entrar no mundo da música, ele acendeu um cigarro e respondeu: “Pobreza. Tinha uma série de empregos para me conseguir sustentar e não gostava de nenhum deles”.

Envelheceu na Suécia, para onde se mudou a certa altura, não fosse o seu filho parar ao Vietname. Por lá se foi mantendo, igual a si mesmo, como o próprio referia: “a grey-haired sonofabitch” e “an obscure old fuck”.

Jeane Kelly, sua companheira desde 1993 a 2007 referiu que “ele conseguia ser rude e ternurento, inocente e depravado, orgulhoso e amargurado. Ele absorveu tudo o que ouviu, viu e leu, desde Port Neches a L.A. ou a Estocolmo e estava constantemente a desafiar-se quando queria fazer música”.

Os tempos são outros e o acto criativo, num universo cada vez mais normalizado e politicamente correcto, tende, muitas vezes, até de forma inadvertida, a toldar-se por alguma “autocensura” que pode impedir o aparecimento ou desenvolvimento de espíritos criativos verdadeiramente livres. Como o de Lee Hazlewood. Ou como o do nosso próximo convidado, Serge Gainsbourg.