Opinião

Música | Investigar o nada: um espetáculo de intimidação

15 ago 2025 08:02

A música não existe isolada do mundo: é parte ativa, é necessária e por isso temida

O espírito ativista da banda Massive Attack foi logo posto à prova, ainda antes dos grandes sucessos, em plena guerra do Golfo, 90 / 91. Segundo o site da Radio X, meses após a formação de forças de coligação na região – chamada de Operação Tempestade no Deserto – a ofensiva contra o Iraque começa a 17 de janeiro de 1991. Os bombardeamentos aéreos no Iraque continuaram durante 42 dias e é neste ambiente que se dá o lançamento do single “Unfinished Sympathy”, dos Massive Attack, com data de 11 de fevereiro de 1991.

Com a Guerra do Golfo em andamento, a BBC decidiu impor uma proibição não oficial (vão sempre atrás da música, já repararam?) a certas canções e artistas que, segundo eles, seriam “inadequados” para transmissão enquanto amigos, parentes e entes queridos britânicos estivessem a combater no Médio Oriente. Não havendo uma letra em específico do grupo que entrasse nesses padrões, decidiu-se que o próprio nome da formação seria omitido, tendo o single sido lançado com o nome da banda a metade, ou seja: Massive.

Os músicos continuaram a somar sucessos, com uma carreira sólida, mas sempre atenta ao mundo que os rodeia e foi-se tornando cada vez mais ativista. Há rumores que um dos integrantes da banda, 3D (também artista de graffiti) seja o próprio Bansky, mas nunca foi provado nem desmentido. Recentemente os Massive Attack, juntamente com outros artistas, anunciaram a formação de um sindicato “para os artistas que se pronunciam publicamente contra Israel e os seus ataques militares a Gaza e que por isso são submetidos a campanhas agressivas e vexatórias de advogados pró-israelitas”, explicam.

Isto surge na sequência do festival mediático em Glastonbury, onde por exemplo, os Kneecap foram visados pela polícia britânica para, dias mais tarde, deixarem cair a investigação. Na sua conta de Instagram, os Kneecap reagiram: “Esta “investigação” foi noticiada em muitos média mundiais, muitas vezes com manchetes extremamente enganosas. Todas as pessoas que assistiram ao nosso concerto sabiam que nenhuma lei foi violada, nem de perto... ainda assim, a polícia achou por bem anunciar publicamente que estava a abrir uma investigação. Porquê abrir e investigar sobre porra nenhuma? Isto é político. Isto é direcionado. Isto é intimidação estatal. Depois que o dano mediático é infligido e visto por milhões de olhos – recebes um e-mail privado a dizer que não há provas e nenhuma ação – e isto é visto por apenas duas pessoas. Não há um pedido público de desculpas nem enviam para os média nem publicam em contas da polícia. Continuaremos a lutar. Continuaremos a vencer”, diz o comunicado.

A música não existe isolada do mundo: é parte ativa, é necessária e por isso temida.