Opinião

Museus & História

7 jan 2016 00:00

Os museus da nossa região têm de saber ser espaços de conservação e de valorização do património dos povos.

2015 foi um ano culturalmente significativo para Leiria. A abertura do Museu de Leiria foi seguramente um dos pontos mais significativos da agenda cultural autárquica regional, importando louvar o feito, e desejando, na abertura de um novo ano, que se inicie um novo ciclo de política museológica em Leiria que necessita de visões coesas e informadas e muito de um investimento constante e de uma gestão reconhecidamente mais ambiciosa e integrada. Uma gestão reconhecida académica e culturalmente, dentro e fora da cidade, com meios para levar a cabo uma programação que cative pela qualidade e pela exigência da oferta cultural, que saiba cultivar os investigadores e autores que encontram no passado da cidade e da sua região o seu campo de trabalho científico. É fundamental que a cidade se reveja nos seus espaços museológicos, que todos os sintam como seus e encontrem neles motivos de aprofundamento da auto-estima cívica de se ser leiriense.

Certos políticos candidatos à ribalta da efémera fama, nos dias que correm, apelam à consciência histórica dos portugueses para legitimarem os seus argumentários de salvadores da pátria. Que os portugueses têm na sua História o primeiro valor identitário é uma realidade demonstrada, aliás, em muitos ciclos históricos de crise e de ameaça à integridade da independência nacional. Infelizmente o argumentário em causa é pura e ressentida manipulação de um valor social maior do povo português, o da sua consciência histórica, como escrevemos, quando se verifica que, na verdade, nunca incentivaram ou sequer apoiaram a investigação de historiadores e de outros académicos competentes no campo da produção do conhecimento que nos dá o sentido e o valor do passado.

Os museus da nossa região têm de saber ser espaços de conservação e de valorização do património dos povos; como têm de saber merecer os públicos que os procuram ou devem procurar, retribuindo-lhes em usufruto cultural e em aprendizagens e descobertas do conhecimento, que são também, em terras leirienses, motivações sentimentais, o esforço da sua visita e de reencontro com as raízes da civilização e com o sentido de uma História pela qual nunca cessarão os combates dos historiadores. A história regional leiriense continua a precisar de apoios à sua concretização e à sua divulgação. Verifica-se, felizmente, que há autarquias que vão marcando pela diferença a escassez de iniciativas neste ponto, o da divulgação da história da região, sustentando publicações culturais periódicas - de que é bom exemplo o Boletim do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha - ou apoiando o aparecimento de outras que se ficam a dever à iniciativa privada mas de espírito de cidadania e de serviço ao bem comum, como acontece com os Cadernos de estudos Leirienses, cujo sexto número foi lançado recentemente na vila de Porto de Mós.

*Historiador