Opinião
Letras | O Organista - Lídia Jorge
A arte, a existência e o amor, são salvação se nos deixarmos tocar pelas coisas simples, que afinal são, um universo de coisas
Lídia Jorge, romancista e autora de contos portuguesa nascida no Algarve em 1946, viveu em África durante a Guerra Colonial. Foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social e é professora do ensino secundário. A sua obra aborda temas como a solidão da mulher e o contraste social, destacando-se livros como O Dia dos Prodígios e O Vento Assobiando nas Gruas, ambos premiados.
Esta sua pequena obra bilingue, encerra em si, a história da criação do mundo, numa alusão religiosa, mas também humanista. Começa no vazio e como o amor pode surgir do nada, preencher vazios e ser do tamanho da infinitude que pode ser o universo. Pode ser algo tão cheio de defeito que pode também crescer à perfeição duma experiência religiosa. Mas até essa pode na sua criação, crescer sem controlo dum criador e de novo se encontrar, após a evolução, no sopro de um órgão e a plenitude que até um ser humano poderá atingir por amor. A arte, a existência e o amor, são salvação se nos deixarmos tocar pelas coisas simples, que afinal são, um universo de coisas, se nos aceitarmos por igual, reverenciando algo superior, como um sentimento que surge como a pauta jamais escrita.
E se há fé entre os seres, e por outro lado a descrença, que exista nos pequenos gestos que em tudo são maiores. Numa quadra que simboliza a paz e o amor, que se multiplique pelos dias de um ano e que façam lembrar a todos, que somos partículas num universo apenas tentando ser felizes.
Festas felizes a todos os nossos leitores.