Opinião

Letras | Gramática da Fantasia _ Como ser bom ? #2

17 mar 2023 11:18

Quem sabe na geração que nasceu depois de mim cresçam valores de respeito, amor e equidade, para todas as PESSOAS

Deixa-me feliz acreditar que numa geração abaixo da minha há rapazes e raparigas bons e justos que vão mandar no mundo muito em breve. Aquela malta boa que se preocupa com os mais velhos, que os cuida e respeita, que têm preocupações ambientais e que procura ser mais, melhor, mais informado e viver em paz e amor.

Tenho tido alguns sinais disso, dizem que a malta mais velha começa a saber ler os sinais, week signals, como diz a outra malta das tendências... também não se passa dos 40 sem estar um pouco mais atenta e desperta para o que realmente interessa.

Trabalho todos os dias com pessoas e há um certo grupo de miúdos onde isso é evidente... e só pode ser... bom...

Há dias fui a Peniche ver o WSL, que aproveito para dizer emanava energia boa, de pessoas boas de todas as idades ou em consonância com este texto, gerações... o estacionamento era um deus nos acuda, mesmo que às vezes não tenhamos a certeza se acreditamos Nele ou não... De regresso o carro que estava trancado por outros dois, de pessoas que de tão boas estariam possivelmente desatentas (ambos os prevaricadores tinham cadeiras de bebé dentro do carro, o que como sabem explica muita coisa), ficou atascado... mesmo depois de duas horas à espera para poder sair, o veículo não saía do lugar, cuspindo areia na sua ânsia de se mexer... bicicletas, capacetes e dois miúdos na bagagem à espera do regresso a casa.

Um sem número de miúdos e de miúdas diferentes, por várias vezes pararam a perguntar se precisávamos de ajuda, arregaçando as mangas de forma pronta e solícita, desejosos de poder ser úteis, de servir, de ajudar. Miúdos bem dispostos, boa onda, resolvidos e que mesmo não podendo contribuir para aquilo que só mais tarde um reboque veio a resolver, comparticiparam com um sorriso cúmplice, com um respeito e com uma disponibilidade para o outro que o dinheiro não pode comprar.

Nessa manhã, nas minhas corridas de madrugada, que é quando eu, mulher da minha geração arranjo tempo para ser eu, tinha visto na Netflix o inspirador primeiro episódio da mini-série documental De Que é Feito Um Líder?, dedicado à Mulher, advogada, ativista em torno dos direitos das mulheres, Ruth Ginsburg, levara também comigo o Margarida Espantada, do Rodrigo Guedes de Carvalho, que reli sofregamente na esplanada do Baleal, e sobre o qual vos queria escrever, e, que é um murro no estômago como os outros que o antecedem, no que diz respeito à violência sobre as mulheres... Março não deveria ser o mês da mulher, o respeito pelas mulheres, ou pelas pessoas nas suas especificidades, deveria ser uma constante.

Mas acreditem que fiquei feliz e cheia de esperança nas sementes de atitudes de quem por mim passou ao lado de um carro atascado à espera do reboque. Quem sabe na geração que nasceu depois de mim cresçam valores de respeito, amor e equidade, para todas as PESSOAS. (e será redundante falar de género, raça, religião, ideologias, ou outras coisas que tais). E aí a redundância será escrever sobre como ser bom!