Opinião
Letras | “Antologia Poética” - Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes contemplou a modernidade da língua portuguesa com a tradição do lirismo clássico
Quem nunca por ser filho da língua portuguesa tenha conhecido o nome do “poetinha”?
Deste e daquele lado do Atlântico, Vinicius de Moraes contemplou a modernidade da língua portuguesa com a tradição do lirismo clássico que a faz maior que uma terra e ainda maior do que um oceano.
Fez futuro ao abraçar as artes em tantas manifestações sem nunca perder a espontaneidade e o nervo que faz os mortais, imortais. Com o “espírito apaixonado e irreverente, como poeta, dramaturgo e letrista, determinou um antes e um depois de Vinicius”. António Candido 
Nunca deixou de ser fiel aos seus princípios mesmo que estes tenham transmutado e até colidido entre si. VM é metamorfose de força viva, e na poesia manifestou-se num romantismo lírico, polvilhado de sonetos de onde sobressai uma espiritualidade romântica e cristã, quase pueril, que marcam o seu primeiro período, e onde alto surgem já no final, os poemas “Ariana, a mulher” e “O cemitério da madrugada”.
No segundo período, esse idealismo e tanscendentalismo, dão lugar à sua aproximação do mundo material e dos prazeres humanos. Uma honestidade pela qual se foi despindo de preconceitos e se foi encontrando. Cada vez mais certo foi através da poesia o encontro consigo próprio... com a sua própria humanidade. “O falso mendigo”, alguns poemas do livro “Novos Poemas” e as “Cinco elegias” trazem algo do passado, mas com um vigor e uma sensualidade poética, tal como apresentando um fundo de sentimento social.

Esta Antologia reúne a poesia de 50 anos e demonstra em pleno esse crescimento em que de dois Vinicius um só se encontra de tão grande e eterno. Mesmo sendo apenas um homem, mesmo sendo apenas poeta.
Deixo aqui dois poemas que refletem esse "antes" e "depois" do sempre igual a si mesmo, homem e poeta, Vinicius de Moraes.
Soneto do Maior Amor - Oxford, 1938 
“Maior amor nem mais estranho existe 
Que o meu, que não sossega a coisa amada 
E quando a sente alegre, fica triste 
E se a vê descontente, dá risada. 
E que só fica em paz se lhe resiste 
O amado coração, e que se agrada 
Mais da eterna aventura em que persiste 
Que de uma vida mal-aventurada. 
Louco amor meu, que quando toca, fere 
E quando fere vibra, mas prefere 
Ferir a fenecer - e vive a esmo 
Fiel à sua lei de cada instante 
Desassombrado, doido, delirante 
Numa paixão de tudo e de si mesmo.” 
~
Dialética - Montevidéu, 1962 
“É claro que a vida é boa  
E a alegria, a única indizível emoção  
É claro que te acho linda  
Em ti bendigo o amor das coisas simples  
É claro que te amo  
E tenho tudo para ser feliz  
Mas acontece que eu sou triste...”
 
                                                             
                                                 
                        