Futuro hipotecado

Esta semana que passou ficou marcada pelas palavras do senhor ministro da educação Fernando Alexandre sobre a degradação das residências universitárias, insinuando que se deveria ao facto de ser frequentada por alunos de baixos rendimentos. Ora a afirmação é tão grotesca que decidi ir ouvir a totalidade das afirmações para ter a certeza que não se tratava de títulos sensacionalistas.

Eu fui aluna bolseira. E devo dizer que mesmo depois de ouvir as declarações do ministro em vídeo, não engoli bem as suas palavras. Por acaso não necessitei de viver numa residência universitária pois tive a sorte de ficar em casa de familiares. Há cerca de vinte anos, a exploração imobiliária não era tão escandalosa como é atualmente.

Ora eu tenho alguns argumentos a apresentar. Senhor ministro, as residências universitárias degradam-se porque têm uso intensivo e pouca manutenção. Tal como nas nossas casas, se não fizermos manutenção com regularidade, os problemas agravam-se. Sabemos bem que obras em espaços públicos é de 10 em 10 ou talvez de 20 em 20 anos. Não há milagres.

Por muito que se cuide bem de algo, sim dura mais, mas também tem o seu tempo de vida útil mediante a utilização. É simples de compreender. Não tem a ver com o estrato sócio-económico do seu utilizador. Acho que os eletrodomésticos ainda não fazem essa distinção. Agora o que não é simples de compreender é porque é que existem cidadãos de primeira e cidadãos de segunda.

Os alunos pobres depois de acabarem os cursos não vão pagar impostos como os outros? Se queremos ser um país com bons rankings de literacia para mostrar à União Europeia, não temos de dar condições às pessoas que assim o desejam de continuar a estudar? Apesar de o peso de uma licenciatura se ter diluído no mercado de trabalho nos últimos anos, a educação superior continua a ser um degrau para subir na escada social e quebrar padrões de pobreza e de dependência do estado. Não é esse o seu objetivo senhor ministro?

Ou o verdadeiro objetivo é poupar uns trocos e atirar areia para os olhos das pessoas? O problema da degradação dos espaços púbicos é do estado que é um péssimo administrador dos seus bens. Tenho dito. E a única diferença entre uns estratos sócio-económicos mais baixos e outros, é que as pessoas com maior poder económico não se contentam com as condições que têm e têm poder argumentativo (dinheiro) para exigir melhores condições.

Apesar de nos dias seguintes o senhor ministro ter afirmado que foi mal-entendido, estou como muitas outras pessoas a sentir que um pedido de desculpas e alguma humildade não lhe ficariam nada mal.

Senhor ministro como presente de Natal no meu sapatinho, por favor um pedido de desculpas e que o seu governo pare de incentivar os nossos jovens qualificados a virar as costas ao seu próprio país ou que jovens de grande vontade e valor desistam dos seus sonhos universitários.

Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990