Opinião

Eu tenho um sonho

16 mar 2017 00:00

Rapaziada como vai isso? Não é que vos diga respeito mas eu tenho tido uns dias tramados e só tenho 15 minutos para desencantar uma crónica, para além desses problemas também tenho um sonho.

Sim, eu, um gajo que abre a boca por reflexo quando a colher da sopa chega perto da catraia, um gajo que quando se vê envolvido com aquelas molas dos bodys e dos pijamas falha metade das vezes, um gajo que hoje ouviu falar de slow parenting e que se considera um pai lento não praticante, no fundo, um homem que deseja calorosamente um pouco de silêncio regado a whiskey com água fresca, ainda me vejo obrigado a lidar com as dores do sonhar.

O meu sonho não é um daqueles mixurucas e pobres de espirito como ter um carro espectacular que nos anúncios ande para a frente mas pareça que as jantes rodam para trás, ou uma casa na praia habitada por uma versão mais sorridente e vestida de branco da minha família, o meu sonho não é ter uma carreira recheada de prémios e palestras em que sou cabeça de cartaz e faço aquele papel de mestre magnético descontraído.

O meu sonho é ter uma mulher-a-dias. Pode-se dizer assim? Não?! Uma auxiliar de apoio técnico?! Uma Creuza?! Uma náná… babá?!

Nesse sonho a senhora, ou senhor, para não haver cá aquelas criticas de sexismo, chega a minha casa pela fresca, com um sorriso e uma marmita, na marmita traz aquelas bolachas de esferovite que o pessoal que quer morrer saudável come e no sorriso traz a minha felicidade.

A seguir monta-se num aspirador, armada de um esfregão e de um espanador e é vê-la a limpar-me a vida de complicações, a arrumar-me as prateleiras do sótão e dar-me acesso ao paraíso. E, por paraíso, entendemos um lençol passado a ferro numa cama de lavado.

E nós quando chegamos a casa, ela cheira a Cif Alegria e a óleo de cedro com paz de alma, a roupa desapareceu do soalho, está lavada, apanhada e estendida e a cheirar a Harmonia, os brinquedos não estão no sofá e há um jantar pronto a comer.

O mundo parece um sítio bonito para se viver. A mim apetece-me dar um linguado ao chão da cozinha e abraçar os sanitários como se fossem família. Que sonho lindo.

Infelizmente, como todas as coisas lindas acabam mal, acordo com um biberon com leite de ontem a cair da mesinha de cabeceira e reparo que tenho um maço de toalhetes dentro de uns lençóis desavindos com um colchão que também precisa de ser trocado, visto a t-shirt de ontem e estou pronto. Não estou nada… mas disfarço.