Viver

Eu tenho dois amores…

30 mar 2017 00:00

Que em nada são iguais!...

Já dizia o grande poeta com o seu cabelo pejado de uma frondosa manada de caracol malandro, enquanto arrebatava plateias à pala do seu malabarismo sensual de micro saltitante!

É sempre difícil dizer que todos nós a dada altura pensámos o mesmo, juntar toda a humanidade num só saco dá sempre confusão… de cheiros, de credos e de uma generalização perigosa.

Por exemplo: eu sinto um grande absurdo cada vez que vou encher o depósito do automóvel.

Estou ali de mangueira na mão, sem saber o que fazer, para onde olhar, com medo que o telemóvel toque e todo o posto de abastecimento vá pelos ares, a controlar os euros a passar, ciente que quando faltar 1,50€ para o destino a ampulheta vai andar tão devagar, que o nível de absurdo passará para níveis GTX Mega Plus Green Camone!

Claro que não posso dizer que todos nós sentimos o mesmo, porque eu não sei como roncam os vossos motores sentimentais nestes momentos de auto… análise!

Mas posso escrever (porque fiz um exaustivo estudo às escondidas do INE e porque este jornal continua sem critério) que, exceptuando os filhos únicos, todos nós passámos por um momento de profunda introspecção, em que pensámos, “os meus pais gostam mais da minha irmã”.

E, para que saibam, houve até alguns filhos únicos que também disseram que os pais sempre preferiram o irmão. É natural meus caros, é impossível gostar de certas de pessoas, mesmo sendo seus pais.

Quem é pai de dois filhos e tem uma tendência natural para pensar em coisas que não interessam começa naturalmente a analisar o seu amor pelos miúdos, a repartição da coisa, o tipo de amor para com cada um.

Eu, como não tenho tempo para questionar coisas inquestionáveis, e porque essas aventuras me fazem doer a cabeça como álgebra da boa, sendo que nem sei ao certo o que é álgebra, digo: a quantidade de amor é exactamente a mesma para os dois, involuntariamente muita, mesmo sabendo que nenhum deles me curte particularmente.

A qualidade do amor, ou a intensidade com que se ama, ou a ligação a cada um, ou outro nome qualquer que vocês arranjem para dizerem o que eu quero dizer, já acredito que possa sofrer variações.

Porque o feitio de um é mais feito para o nosso número, ou porque eles estão em fases diferentes de crescimento e requerem mais ou menos atenção, porque um é bicho-do-mato e o outro um amestrador de plateias, porque um é menino e a outra é menina, são imensas as variáveis que constroem essa relação.

Os laços que nos unem, podem ser de várias cores, de vários materiais, mas são todos inquebráveis. Ouviram meninos?