Opinião

Efluente

23 jul 2023 10:32

Era básico, ocorre-me pensar, sem grande critério, que se fechasse essa torneira aos efluentes que querem ser afluentes por influência alheia

Tenho escrito semanalmente para este jornal, em versão online, sobre água e as suas várias formas, desde a fonte ao mar, passando pelos ribeiros e barragens. Continuo hoje escrevendo sobre efluentes.

À passagem do rio, ribeiro ou ribeireco, há sempre quem ajude, uma casa ou outro comércio e indústria, a engrossar o seu caudal. A boa vontade vem de quem ajuda o bem comum com o melhor que tem, e a espalha a montante do seu território.

Todos contribuímos, e todos bebemos desta nossa água. Diz-se que eflui merda de porcos no rio. Mas também eflui muita da nossa, por canos que infelizmente não foram saneados, mas vêm desse tempo.

Era básico, ocorre-me pensar, sem grande critério, que se fechasse essa torneira aos efluentes que querem ser afluentes por influência alheia. Que dos tubos moles e flácidos, órgãos de digestão necessários à grande passagem de comida por nós, surja tanta coisa castanha, consigo perceber. Mas na água que queremos beber leva os tons corrompidos de uma cor mal escolhida. Misturam-se as cores no estômago, e já sabemos que é sempre provável sair castanho.

Porém, escolher o castanho para terra, tronco de árvore e caudal de rio foi mão engenheira que por desvio ou intempérie del niño fez alagar a transparência cristalina da água com os corantes das margens e os cheiros dos tubos.

Diria que não me parece natural, mas aceitamos como se nada fosse. Arte encomendada, a de pintar assim a paisagem que faz a travessia pelo meio da cidade. Com cheiro a fezes e animosidade lamentada de quem aguenta o mau cheiro por beber água engarrafada. E que o calor lembra: estamos de férias.

Se sem a influente bifana parece não haver afluência em festas e romarias, festejem-se então também os abundantes afluentes humanos que engrossam o caudal dos rios com abjectos dejectos que entopem o seu trajecto. É a verdade, caros amigos. Há cidades cujos rios cheiram a merda de esgoto todos os verões.