Opinião

“Dois” comentários sobre as eleições presenciais de 24 de janeiro de 2016

27 jan 2016 00:00

José Rodrigues Santos tem-me desiludido totalmente: saiu-lhe mais uma daquelas não pensadas (estão alegremente incorporadas na subjetividade da sua pseudo-informação).

Obviamente, tenho de dar os meus parabéns ao professor Marcelo Rebelo de Sousa. Ganhou. Será o novo Presidente da República e creio, apesar de tudo, que será mil vezes melhor que o seu antecessor. É nestes momentos que se conhece o jornalismo que temos. José Rodrigues Santos tem-me desiludido totalmente: saiu-lhe mais uma daquelas não pensadas (estão alegremente incorporadas na subjetividade da sua pseudo-informação).

Afirmou que os portugueses tinham votado todos em Marcelo Rebelo de Sousa. Todos? Então e a abstenção também votou nele (a abstenção foi enorme, superior a 50%)? E os votantes nos outros nove candidatos também votaram nele? Tanta alegria que lhe tolda a objetividade. É notório o peso da imagem construída para estas eleições. Não foram os projetos, nem as promessas nem as palavras que fizeram o fundamental dos resultados. Não foi o conteúdo, foi, essencialmente, a imagem.

O professor Marcelo Rebelo de Sousa, comentador e professor inteligente, embora muito catavento, como se tem dito ultimamente, foi eleito com o número de votos que teve, dada a promoção da imagem que teve pelos media durante décadas. Foi o Marcelo-imagem que entrava todos os domingos na casa dos portugueses e não o Marcelo-conteúdo que ganhou as eleições de 24 de janeiro de 2016. Os portugueses (tipo espécie de média aritmética) vão muito nas imagens, não nos conteúdos.

Quem sabe a abstenção foi a que foi porque não encontrou conteúdos nos discursos dos candidatos?  Se a imagem não tivesse força, como poderia o Tino de Rans ter obtido o resultado que obteve? Há gente desiludida e que não acredita nem na retórica dos políticos partidários nem nos discursos vazios da maioria dos candidatos. Por isso, muitos votaram no Tino. Do meu ponto de vista, apenas António Sampaio da Nóvoa trouxe ideias novas para o exercício da Presidência da República.

Ficou em segundo lugar sem qualquer apoio das máquinas partidárias. Neste caso foi também a imagem que muitos intelectuais têm dele mas, claramente, o seu discurso e conteúdo que veiculou e bem. A sua serenidade. A sua entrega. A sua capacidade de escuta ativa. A sua empatia. A sua forma de ser político. Pena que o PS não tenha querido aproveitar a oportunidade. Teve o passarinho na mão. E onde ficaram os outros que se diziam ter experiência política e que até adivinhavam o futuro? Na cauda dos resultados.

Pena não haver mesmo segunda volta. Não se pode provar, efetivamente, o que aconteceria. Mas tenho para mim que Sampaio da Nóvoa, o grande político não partidário, seria mesmo o vencedor. Pena. Muita abstenção que materializada em votos poderia alterar tudo e ajudar a sustentar esse tempo novo que muitos de nós aspiramos. Finalmente, factos são factos e que o professor Marcelo Rebelo de Sousa saiba mesmo ser árbitro e não se veja tentado a marcar golos a favor da equipa da direita que, de momento, está na oposição.

*Professor Decano do Instituto Politécnico de Leiria