Opinião

Dez conselhos para manter o casamento à tona

2 mar 2017 00:00

Deixar o barco à deriva com os passageiros preciosos que encomendámos para a viagem será sempre a última opção.

Olá pessoal 4.0 que problematiza e analisa tudo o que seja pediátrico e que chora sem fazer barulho a ver o vídeo do menino autista no concerto dos Coldplay.

Pais, mães e mesmo tios só à espera de vaga para se mandarem de cabeça à vasectomia, que derramam sempre uma lagrimazinha no teclado ao verem uma criança muito triste ou muito feliz no YouTube.

Não, não se preocupem, vocês não padecem de amolecimento crónico, é tudo normal, agora somos todos mais ou menos assim, uns sensíveis incorrigiveis.

Hoje, para apimentar a nossa relação, finalmente vou deixar-vos espreitar, mas sem tocar, a minha intimidade, satisfazendo assim a curiosidade aos milhares de leitores que me escrevem a perguntar: Doutor, como é que se consegue manter um casamento feliz, ou mesmo um casamento sem ser feliz, com dois filhos lá em casa?

Pois bem, meus atrapalhados a cortar pequenas unhas em pequenos dedos, eu esclareço-vos, ilumino-vos e guio-vos em direcção a um grande não faço a menor ideia.

O que eu sei é que lá em casa não desistimos de tentar, aguentamos e resistimos quando o mar está torcido e tentamos gozar ao máximo quando navegamos por águas serenas.

Deixar o barco à deriva com os passageiros preciosos que encomendámos para a viagem será sempre a última opção. Longe vai o tempo em que o barco era novo, pintado de fresco, cheio de vento nas velas, a rasgar águas límpidas como a água, a todo o vapor em todo o tipo de manobras com todo o tipo de ondulação.

O raio do barco até parecia anfíbio, ele ia contra rochas, contra pinhais, em piscinas, no carro. Bom, vocês sabem como são os barcos quando são novos.

Mas, com o tempo, vêm os problemas, a pintura começa a estalar, o casco mete água, o convés fica desarrumado com peúgas mal cheirosas pelo chão, começamos a ter que navegar por entre icebergs, deixamos de ter sempre como paisagem o pôr-do-sol regado a champagne, e dá-nos aquela vontade de ir ao Tinder escrever: Procura-se comandante para barco usado.

É aqui, meus cadetes de meia tigela, que se vê a fibra da tripulação, que não abandona o barco à primeira onda, mesmo que ela seja da Nazaré e que prometa obscenidades languidamente, que mantém o barco à tona nem que seja só com um remo e que sabe que nenhuma epopeia marítima foi escrita sobre a travessia de uma lagoa.

Claro que o barco pode ir ao fundo, claro que num dia de tempestade podes mandar-te de cabeça ao mar revolto, claro que podes dar contigo num kayak a comer massa de atum com esparguete quase todos os dias, mas, como comandante encartado te digo: esforça-te para o evitares e deixa sempre os passageiros em porto seguro. Ahoy!