Opinião

(Des)empacotando livros segunda parte: ordem

23 ago 2018 00:00

Em todos estes lugares, como que por “geração espontânea”, os livros começaram a amontoar-se em torno dele.

É difícil precisar o lugar a que pertence. É um cidadão canadiano, uma opção política que tomou nos anos 80. Mas nasceu em Buenos Aires, em 1948, e a sua língua materna é o espanhol. Cresceu em Tel-Aviv, onde seu pai foi embaixador, tornando-se fluente em inglês.

Nos anos 70 deixou a Argentina. Envolvido em projectos literários e editoriais, viveu em França, Inglaterra, Itália, Tahiti. Em todos estes lugares, como que por “geração espontânea”, os livros começaram a amontoar-se em torno dele. Talvez pudéssemos ler nesse movimento dos livros um itinerário de uma identidade em mudança.

Em 2000, no decurso de uma visita à região francesa de Poitou-Charentes, depara-se, em Mondion, com um presbitério medieval que de imediato lhe pareceu o local ideal para dispor finalmente dos 35 000 volumes da biblioteca que juntara nas suas peregrinações anteriores.

Era uma pequena aldeia, com uma escassa dezena de casas, a sul do Vale do Loire. Alberto Manguel pensou: agora que os meus livros encontram o seu lugar, talvez eu tenha encontrado o meu. Sabemos hoje que a permanência do escritor com a sua biblioteca em Mondion cessou em 2015.

Outro começo, desta vez em Nova Iorque. Empacotar de novos os livros que década e meia antes desempacotara com desvelo, de surpresa em surpresa, reconstruindo memórias e afinidades electivas. Uma biblioteca é uma conversa interminável, uma narrativa que recusa a palavra “fim”, um processo incessante.

“A minha história – diria Manguel – muda de biblioteca para biblioteca, ou do rascunho de uma biblioteca para a seguinte, nunca uma precisa, nunca a última”. Ele acredita que cada recomeço não é uma repetição, porque haverá sempre novas relações que serão assinaladas. Uma biblioteca assim constituíd

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