Opinião

De volta ao meu aconchego

20 jul 2022 09:00

Penso que o tempo da música, dos livros, da arte é agora. Não antes.

Acabei o fim-de-semana no Habitat (Leiria), a comer/beber bem e a conversar melhor com a Célia e o Lacerda da Fade In, com o músico Luís Pestana (granda malha!) e amigos.

Tínhamos, por intermédio da performance do Luís no Ciclo de Música Exploratória, acabado de subir às naves, de descer abaixo das lajes da excelsa Igreja da Misericórdia, onde cabem todas as músicas.

Já vinha de vinho de branco e livros debaixo do braço doutro lugar de culto (a livraria Arquivo) onde estive a apresentar o livro O Segredo da Lagoa Escura (Nuno Matos Valente) e, ainda antes, nos dias que tinham passado pelo calorífero nacional, embalado pelo 8º seminário Da Arte de Ler, deste feita em Alcobaça, organizado pela laboriosa e muy querida Rede De Bibliotecas aqui da cidade.

Dias quentes, cheios de enriquecimento intelectual, que, para além de um adquirido gosto por whiskey japonês, tem sido as tábuas de salvação (mais a família) da assombração Covid que me apequenou, me prendeu ao medo, à desconfiança, ao nó profundo da confusão.

Corriam apenas dois dias sob o confinamento quando me juntaram a um grupo de WhatsApp de “artistas” Portugueses. 250 pessoas, o limite da aplicação. Li e pensei... este grupo, apesar da boa intenção, não dura uma hora. E assim foi, minuto a mais ou a menos. Os egos, o individualismo versus o facto de que os “civis" andavam à busca de papel higiénico nos supermercados e não de música, ditariam esse fim abrupto.

Apesar de ter tocado pandemicamente, para não sair do radar, nunca tive a veleidade de me colocar no centro do problema, apesar da profunda crise do sector e da justiça das suas reivindicações. Deixei de me considerar um “artista” e, finalmente, fiz paz com a minha condição de entertainer.

Por tudo isto, penso que o tempo da música, dos livros, da arte é agora. Não antes. É agora que somos (mesmo) precisos para entreter, para dissipar, o melhor que saibamos, a nuvem que a pandemia colocou dentro da nossa cabeça, do no nosso coração.