Opinião
Cinema e TV | Revenge: uma mulher contra o mundo
O que distingue Revenge de tantos outros filmes do género é precisamente o olhar feminino por detrás da câmara
Revenge (2017), de Coralie Fargeat, é uma explosão estilística que reescreve o subgénero rape-and-revenge com uma energia ferozmente feminina. O filme acompanha Jen, inicialmente apresentada como uma jovem aparentemente superficial, colocada no papel típico de objeto decorativo para homens ricos em férias. Mas Fargeat rapidamente desfaz esse arquétipo, transformando-a numa sobrevivente imparável, cuja força não deriva apenas da brutalidade da situação, mas da sua capacidade de se reinventar no meio do deserto, isolada e abandonada.
A realização é ousada, quase sensorial. A câmara mergulha-nos numa paisagem árida onde o sangue contrasta com cores saturadas e um som quase tribal que aumenta a tensão. É cinema de género levado ao extremo, brutal mas nunca gratuito, porque cada exagero é pensado para devolver o poder à protagonista.
A metamorfose de Jen, interpretada com convicção por Matilda Lutz, é o coração do filme: uma mulher reduzida à insignificância pelos homens que a rodeiam torna-se uma força da natureza, incontrolável e absolutamente determinada.
O que distingue Revenge de tantos outros filmes do género é precisamente o olhar feminino por detrás da câmara. Fargeat não explora a violência para choque; usa-a para sublinhar a resistência, a raiva e a autonomia de uma mulher que recusa ser apenas vítima.
O resultado é um filme visceral, estilizado e surpreendentemente catártico.