Opinião

Cinema e TV | Isto é uma coisa a ver: Alien: Planeta Terra

5 set 2025 09:56

Apesar dos excessos visuais e referências pouco subtis, a série acaba por ser um tributo à história da ficção científica

Em 1979 nasce, pela mão de Ridley Scott, o filme Alien – O Oitavo Passageiro, a que se seguem Aliens – O Reencontro Final, realizado pelo canadiano James Cameron, Alien3 – A Desforra, do americano David Fincher (que depois de Alien3 realizaria Seven – Sete Pecados Mortais, um dos thrillers mais interessantes da década de 1990), e Alien – O Regresso, realizado pelo francês Jean-Pierre Jeunet, também realizador de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

Estes quatro filmes, todos com Sigourney Weaver no papel de Ellen Ripley, a primeira grande heroína de ação, apresentam a entidade alienígena mais temível da história do cinema e estabelecem uma parafernália de elementos que alimentará todos os produtos e subprodutos que aparecerão, já no século XXI, com a chancela Alien.

O segredo do sucesso e longevidade da série assenta no próprio alien, um ser desenhado pelo artista plástico H. R. Giger, que criou um híbrido de metal e material orgânico que provoca simultaneamente fascínio e horror. Este ser, com múltiplos estádios de desenvolvimento e diversas formas, tem ácido em vez de sangue e não tem vulnerabilidades aparentes. Não se limita a matar, mas viola, insemina, contamina, parasita, rasga, corrói e corta o corpo humano, despertando no espetador os medos mais primitivos e o horror mais puro, como acontece com a icónica imagem da irrupção do alien no peito de Kane em 1979.

O cinema vai explorar esta multifacetada personagem de diversas formas. A franquia Alien dá origem a filmes como Alien vs Predador (Paul W. S. Anderson, 2004, e Irmãos Strause, 2007), Prometheus (Ridley Scott, 2012), Alien Convenant (Ridley Scott, 2017) e Alien: Romulus (Fede Álvarez, 2024).

Agora, no formato série, há uma espécie de regresso às origens, com o retorno ao tempo da acção do primeiro Alien. Estreada no passado mês de Agosto na Disney+, e com previsão de 8 episódios, Alien: Planeta Terra foi criada por Noah Hawley, e retoma a estética (agora retrofuturista) de Alien – O Oitavo Passageiro e muitos dos seus principais ingredientes: a existência de grandes corporações, conglomerados económicos que dominam o mundo, a existência de androides, seres sintéticos que se assemelham a humanos, e a prevalência do mal sobre o bem, que se manifesta na sede de poder e domínio do alien enquanto arma biológica, independentemente das vidas humanas que isso custe.

A isto Alien: Planeta Terra vai acrescentar novos e perturbadores elementos. A já conhecida Weyland-Yutani vai ter de lutar pela posse do xenomorfo com uma nova companhia, a Prodigy, fundada por Boy Kavalier (interpretado por Samuel Blenkin), um bilionário imaturo que, à imagem de Peter Pan, se recusa a crescer, e tem o projeto secreto de vencer a mortalidade humana transferindo a consciência para corpos sintéticos (qualquer semelhança com Elon Musk poderá não ser mera coincidência). A fase experimental é aplicada a um grupo de crianças com doenças terminais que são resgatadas da morte, mantendo as suas memórias infantis em corpos adultos invulneráveis. Estes seres híbridos (entre humanos e máquinas, e adultos e crianças) transformam-se num exército de meninos prodígio, comandados por Wendy, que lutam contra o alien enquanto paralelamente se trava a guerra entre as companhias.

Apesar dos excessos visuais e referências pouco subtis, a série acaba por ser um tributo à história da ficção científica. Encontramos isso, por exemplo, na personagem interpretada por Timothy Olifant, com o cabelo e sobrancelhas descoloradas a lembrar Roy (Rutger Hauer) o replicante de Blade Runner, mas reconhecemos também os espaços de terror underground, com metais pendentes e água corrente, que evocam a morte de Brett (Harry Dean Stanton) a bordo da nave Nostromo, ou a escolha do nome New Zion para o local onde se passa a ação, que, além do significado religioso, remete claramente para a cidade humana de Matrix. Esta intertextualidade, apenas acessível aos fãs do género, torna Alien: Planeta Terra um bom produto de entretenimento, não pelas reflexões filosóficas que pode provocar sobre as fronteiras do humano e os limites da tecnologia e do capitalismo (essas estão nos filmes originais que a série procura replicar), mas pela iconografia, pela música (de Jeff Russo) e pela imaginação das novas configurações da monstrificação, seja alienígena ou humana.