Opinião
Cinema e TV | Entre sonhos e memórias de morangos silvestres
Bergman constrói um retrato delicado da solidão, da fragilidade das relações e da inevitável passagem do tempo
No passado dia 2 de Setembro tive a oportunidade de ver Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman, no Teatro Miguel Franco. Sendo um grande admirador do realizador, sobretudo pelo estilo marcante de O Sétimo Selo, entre a sua atmosfera pesada e metafísica, este filme apresentou-se como uma experiência distinta, mais intimista e profundamente melancólica.
A narrativa acompanha a viagem interior de Isak Borg, um professor idoso confrontado com as memórias do passado e a proximidade da morte. Através de sonhos e recordações, Bergman constrói um retrato delicado da solidão, da fragilidade das relações e da inevitável passagem do tempo. Se por vezes a cadência lenta pode afastar, a sua riqueza simbólica mantém o espectador atento à dimensão existencial que se desenrola subtilmente.
Apesar de não figurar entre os meus favoritos dentro da filmografia do realizador, não posso deixar de reconhecer a força da sua realização. O preto e branco é explorado com mestria, revelando texturas, contrastes e atmosferas que intensificam cada emoção. Bergman mostra um controlo absoluto sobre a imagem e sobre a forma como os rostos e os espaços se transformam em extensões da vida interior das personagens.
Em suma, Morangos Silvestres poderá não ter o mesmo impacto que O Sétimo Selo no meu imaginário pessoal, mas é uma obra que comprova, uma vez mais, o génio de Bergman em traduzir angústias universais numa linguagem visual e poética de rara sensibilidade.