Opinião
Cinema e TV | Ash: ficção científica psicadélica com alma oitentista
Um filme de baixo orçamento, e talvez seja isso que lhe dá algum charme. Por vezes, são as limitações que puxam pela criatividade
Flying Lotus regressa à realização com Ash, depois da sua marcante participação na antologia V/H/S/99. Conhecido, antes de mais, pelo seu trabalho na música eletrónica e no hip hop experimental, aqui volta a assumir múltiplos papéis criativos — não só realiza, mas também compõe a banda sonora do próprio filme, conferindo-lhe uma identidade sonora muito pessoal e envolvente.
A atmosfera é, sem dúvida, um dos pontos fortes de Ash. A música, a fotografia e os visuais formam uma experiência hipnótica, por vezes até psicadélica, que nos remete diretamente para os clássicos da ficção científica dos anos 80. A paleta cromática intensa, os efeitos visuais interessantes, dentro do orçamento, o que, para quem aprecia esse tipo de estética, é um verdadeiro achado.
No elenco, destaca-se Eiza González, uma escolha interessante e carismática para um filme deste género. A sua presença segura ajuda a sustentar o ritmo, embora fique a sensação de que faltou um pouco mais de risco e ousadia na direção dos atores. A história, por sua vez, é talvez o elo mais fraco — não tanto pela premissa, mas pela falta de desenvolvimento nos diálogos e nas relações entre personagens. Aaron Paul está igual ao episódio do Black Mirror “Beyond The Sea”, não salva aqui.
A montagem é um elemento que me deixou dividido. Há momentos em que funciona de forma eficaz, contribuindo para o crescendo da tensão; noutros, parece desorganizada ou até confusa. Ainda estou a refletir sobre essa componente, mas reconheço que é, no mínimo, diferente do habitual — o que pode agradar a quem procura algo fora da norma.
Em suma, Ash é um filme de baixo orçamento, e talvez seja isso que lhe dá algum charme. Por vezes, são as limitações que puxam pela criatividade, e neste caso há ideias visuais e sonoras bastante interessantes. Para fãs da estética oitentista e da ficção científica mais crua e estilizada, é uma proposta a ter em conta.