Opinião

Carta Branca

6 jan 2017 00:00

Um prazer de ver de longe o novelo de amizades onde a dança foi de certa forma o fio condutor. Aqui vai o recital de um momento.

 A começar por uma amiga, que conheço de Leiria e com quem passei momentos fulcrais de descoberta e de uma amizade no tempo, inesquecível. Recordo uma vez termos ido de férias de Verão para a Serra d’Aire e Candeeiros, e ficarmos no parque de campismo do Arrimal que abriu especialmente para nós.

Nessa altura, ela tinha o cabelo rapado e eu o cabelo comprido e tinha sido curiosa a nossa aparição na taberna, com os olhos de espanto dos locais, mas bom acolho.

Voltámos depois ao Arrimal com mais amigos para passar o Ano Novo nesse mesmo ano. Desta vez, com o campismo fechado, acabamos por arranjar um canto para acamparmos e fazermos uma fogueira. A luz do fogo acabou por atrair alguns jovens locais, que vieram instalar-se e conversar, mas num outro registo, maneira de pensar e de estar.

Mas o frio, o fogo e a música fizeram encontrar-nos apesar das vivências diferentes da cada um. Um dia, numa das viagens no ‘expresso’ para Lisboa, encontro essa amiga e falo que estou num curso de dança e que procuro casa.

Acabo depois por viver no mesmo apartamento em Lisboa. Um ano depois ela acabou por se cruzar naturalmente com o meio da dança. O Miguel Pereira, que conhecemos ambos pelo Fórum Dança, por exemplo, ou o André Guedes que me contactou pela primeira vez quando eu estava em Nova Iorque.

Mais tarde, acabou por colaborar comigo em vários projectos e o interesse partilhado pelo espaço cénico fê-lo cruzar-se com Vera Mantero. O Miguel Pereira veio depois para Nova Iorque e no prédio o meu vizinho anuncia uma vaga, ficando assim o Miguel mesmo ao lado a viver. Sim, tínhamos a possibilidade de falar pela janela do prédio situado na MacDougal Street onde viveu a Patty Smith.

Fomos, assim, vizinhos, e ainda da Sara Graça que vivia na rua ao lado, Thompson Street. Apresentei-os depois nessa altura. O Miguel Pereira à Sara Graça. Frequentávamos ambos o Lee Strasberg. Mais tarde vim igualmente a viver com a Sara Graça.

Terminado o nosso tempo em Nova Iorque, fomos vindo para Portugal. Cada qual ao seu tempo. Vejo hoje com agrado que todos continuamos ligados.

Ver hoje a amiga de Leiria com o Miguel, o André e a Sara é algo de fundador, pois os nossos caminhos cruzaram-se porque existe uma mesma ressonância, mesmo que possamos estar, por vezes, em frequências diferentes, e a oscilação dos encontros ser pouco periódica, mas com uma contínua presença pelo nosso trabalho e interesses comuns.

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