Opinião

Breve ensaio sobre o imerecimento

5 abr 2019 00:00

Mesmo que imersos na mais profunda dor e tristeza, há sempre um rogar que se perde e se renova, um reacender das vontades e da ilusão.

Os imperativos da melancolia são sempre uma espécie de preparação da alma para um prelúdio do tempo que habitamos, espaço e matéria a que acedemos pelo encalço dos sentidos.

Mesmo que imersos na mais profunda dor e tristeza, há sempre um rogar que se perde e se renova, um reacender das vontades e da ilusão.

E isso assume uma expressão inominável quando nos deparamos com a morte, com a perda de quem nos faz falta. E esta (in)finitude serve o propósito da melancolia, como se fosse uma ligação primordial à inquietação que trazemos e nos conduz à imprevisibilidade da fortuna. 

A gramática dos sonhos é desigual, movimento de silêncio no desenho que se ergue da espuma arremessada por entre penumbra e brilho. Nas palavras de Paul Celan, “a morte é uma flor”.

Mas neste assombro, a irremediável mão da dor e o sobressalto da mágoa não se conjugam. São antagonistas. Anulam-se. Revestem-se de um padecimento irremediável, arrepio pungente na desordem, vórtice infindo, naufrágio. Impor ao corpo um lugar incomum é embaraço e negação.

E isso relega o consolo para o insanável desprezo, ordem alojada no juízo irradiado pelo pensamento que se escora no pesar.

Depois, no desgosto, uma espécie de nevoeiro denso haverá de se abater sobre as têmporas, quando para trás se vão sonhos e quimeras.

A vida é récita vulnerável, ruptura e contraciclo, soçobrando na imprevisão. E a morte submerge nos pestanejos do céu, ressoando como uma casa apagada no epicentro do silêncio.

O corpo apreende os movimentos das quimeras, transitando no vogar das incertezas, rumando para o universo paradoxal do futuro.

Imerecimentos são êmbolos que deformam as virtudes no ardor das incertezas.

O passado finca os dedos no lado súbdito da paisagem. Por isso, o eco das sílabas e dos vocábulos inaugurais que nos ac

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