Opinião

Barca do Inferno

27 dez 2019 13:49

Tenho uma proposta para vos fazer. Uma compra para todas as estações.

As melhores compras fazemse depois de terminadas as loucuras natalícias, depois de dobrado o ano novo quando voltarmos, muitos de nós, a uma certa normalidade de cruzeiro, contar os tostões, comprar o que nos faz falta, contar os tostões, comprar uma coisa bonita às vezes, esperar pelo fim do mês...

Tenho uma proposta para vos fazer. Uma compra para todas as estações.

Uma compra que é indiferente ao género e à idade do destinatário mas não à sua inteligência nem ao que lhe interessa. Pressupõe-se portanto que ao destinatário interessa saber mais sobre o que o rodeia.

E que de todos os instrumentos de conhecimento que lhe são acessíveis escolheu a Arte como um deles.

E que utiliza esse conhecimento como ferramenta de construção da sua própria resposta ao mundo.

Acontece isso com muitos artistas, acontece isso com muitas crianças e adultos que não são artistas. Pode não acontecer o suficiente mas, acontece. A todos eles se podia oferecer este presente. E em último caso podemos sempre oferece-lo a nós próprios que bem o merecemos.

A Mafalda Brito escreveu e o Rui Pedro Lourenço ilustrou, para a Editora Barca do Inferno, um conjunto notável de livros para toda a família sobre artistas portugueses contemporâneos. Até agora saíram quatro: Amadeo de Sousa Cardozo; Helena Almeida; Ângelo de Sousa e Alberto Carneiro.

Não são biografias no sentido adquirido do termo, são histórias de vida narradas a partir de confrontos decisivos, perguntas chave para as quais eles encontraram uma (tentativa de) resposta traduzida numa obra de arte – uma pintura, uma escultura, uma colagem, um recorte, um desenho...

Muitíssimo bem escritas e primorosamente ilustradas estas narrativas são um extraordinário catalisador de reflexões sobre a Arte, os artistas e os seus olhares, as suas admirações, interrogações e respostas. São livros sobre o Mundo.

E sobre como o desmembramos e voltamos a ligar. São, sobretudo, livros para se conversar – adultos e crianças, crianças e crianças, adultos e adultos, tanto faz.

Voltando atrás: se lhe apetecer oferecer alguma coisa a alguém, aqui tem o presente ideal.

Para toda a gente, excluindo as amibas humanas.

Tenham todos um próximo ano muito bonito.