Opinião

Avaliações

14 jan 2023 16:12

A primeira questão é, como já dissemos, a de confundir a aquisição de um produto cultural com a sua subsidiarização

O ano passado fiz aqui um comentário que não terminei a dois textos sobre política cultural, um de Pacheco Pereira (PP) e outro de Sérgio Guerreiro (SG) - Público, 3/12/22, pp. 13 e 14.

Este espaço é demasiado pequeno para ensaiar uma resposta capaz mas, ainda assim, alguma resposta tem de ser tentada. Não tanto pelo que se diz mas porque o que se diz fazer parte de um discurso que começa, há já algum tempo, a elaborar-se com requintes, eu não diria novos, antes pouco utilizados.

A primeira questão é, como já dissemos, a de confundir a aquisição de um produto cultural com a sua subsidiarização. É uma confusão muito bem vinda para iniciar uma bela conversa sobre “subsídiodependência”. Aliás uma confusão que as contas das autarquias e do Ministério da Cultura alimentam e promovem para fazer esquecer o real desinvestimento na cultura, como noutras áreas fulcrais do bem estar, físico e psíquico, dos cidadãos.

A segunda questão é a de sabermos, cito PP, “como é que avaliamos a qualidade criativa de uma actividade cultural, ou o seu papel e utilidade em termos educativos, de integração social, de diminuição da interioridade, de pedagogia das artes e das letras, quando esta é subsidiada com dinheiros públicos?”. Boa pergunta.

Este final do “quando é subsidiada com dinheiros públicos” é de um requinte especial. PP, sabe muito bem, todos sabemos muito bem, que qualquer resposta só pode ser dada perante um objeto concreto. Isto é, só depois de feito o pote se sabe se não deixa sair a água. Há os que sim e os que não, é certo.

PP também sabe que os critérios de avaliação de um produto são sempre, em última análise, de quem o compra, o resto pouco mais é do que folclore retórico. A recusa do Município da Guarda de 800.000 euros para aplicação no seu Teatro Municipal por razões de discordância em relação à programação, é um exemplo triste mas serve bem para recordar que a avaliação da qualidade existe. Para o bem e para o mal.

Não tenho mais espaço nem quero falar disto durante uns dias, devo-vos um pedido de desculpa. Pim.