Opinião

Até já, Natal!

8 dez 2017 00:00

É capaz de ser a única coisa na vida que me deixa nostálgico e ansioso. Nos dias antes de me fazer à estrada quero sempre que ao chegar possa sentir esse conforto único do Natal em Leiria.

Nunca andei na catequese, só tive Religião e Moral uma vez, no ciclo - porque a minha mãe se enganou a preencher a matrícula - e era raro o dia em que eu e mais dois na mesma situação não viéssemos para a rua, até o professor se fartar e optar por nos dispensar.

Sou pouco dado a crenças religiosas, mas gosto da história das religiões e até comecei a minha vida profissional num jornal de inspiração cristã. Aprendi muito. Também fui a vários congressos da imprensa de religião cristã. E também aprendi muito.

Apesar disso, a crença não é para mim. Paradoxalmente, gosto muito do Natal. Gosto principalmente do Natal em Leiria. Daquela sensação do regresso a um lugar familiar, aos amigos, à comida da mãe, aos copos de fim de tarde do dia 24 na Praça. Às compras de última hora nas lojas de sempre.

É capaz de ser a única coisa na vida que me deixa nostálgico e ansioso. Nos dias antes de me fazer à estrada quero sempre que ao chegar possa sentir esse conforto único do Natal em Leiria.

De certeza que é assim para toda a gente que vive fora da sua terra e, basicamente, só regressa para as festividades. Mas, que se lixe, quero acreditar que Leiria é especial. Não precisamos de tendas a debitar techno (ou o que quer que seja) no meio da Praça - parece que este ano é noutro sítio, mas vocês percebem.

Não precisamos de macacadas. Basta-nos andar pelas ruas e encontrar os amigos todos. Mesmo todos. Saltitar de café em café, de loja em loja, enchermos a alma dos “lembras- te quando...”, dos “caraças, não te via há anos...”, dos “porra, tás igual...”.

Em 43 anos, só passei dois natais fora. Um recentemente em Lisboa, outro, em 1999, na Palestina, em Belém, onde supostamente tudo começou. Nem esse me “converteu”. E, apesar da experiência única e extraordinária, até aí a vontade de estar em Leiria foi forte ao ponto de verter uma lagrimita.

É por isso que já estou a contar os dias. Chegar, deixar o saco em casa e (desculpa lá, mãe, mas já sabes como é) sair para a rua.

Andar a pé, um bocado, ver as luzes, as montras e seguir para a maré de abraços, calduços, ressacas e afectos dos bons. Até já, Natal.

Editor-in-chief VICE PORTUGAL