Editorial

Atacar a depressão

12 jan 2023 10:40

Este flagelo, agravado significativamente pelos confinamentos e as quebras de rotinas sociais provocadas pela pandemia, afecta não só os adultos, mas em particular as gerações mais jovens

As estatísticas não estão regionalizadas, mas o panorama nacional dá para perceber a dimensão do problema, também a nível regional. No primeiro semestre do ano passado, venderam-se em Portugal perto de 10,9 milhões de embalagens de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos.

Em média, os portugueses compraram mais de 59 mil embalagens por dia deste tipo de medicamentos, um aumento de 4,1% em relação a igual período do ano anterior e um encargo para o Serviço Nacional de Saúde de cerca de 32,5 milhões de euros, segundo dados da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).

Num outro relatório, mais recente, Portugal figurava como o segundo país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com maior consumo de antidepressivos e um total de 1,25 milhões de pessoas diagnosticadas com depressão crónica.

Este flagelo, agravado significativamente pelos confinamentos e as quebras de rotinas sociais provocadas pela pandemia, afecta não só os adultos, mas em particular as gerações mais jovens, que denotam cada vez mais incapacidade de sentir prazer nas actividades diárias, com crescentes sentimentos de tristeza profunda e de vazio.

Uns e outros nem sempre procuram ou sabem onde procurar ajuda, por vergonha, desconhecimento ou por medo de serem olhados de lado por uma sociedade apressada que, na generalidade, ainda encara a saúde mental como um assunto tabu.

Por outro lado, como alertou recentemente o coordenador Nacional das Políticas de Saúde Mental, Miguel Xavier, “não é possível desligar a saúde mental de um país, em termos globais, da situação socio-económica existente nesse mesmo país”. E todos sabemos das dificuldades com que se tem deparado uma boa parte da população portuguesa nos últimos tempos.

É, por isso, de enaltecer a iniciativa lançada esta semana pela Câmara Municipal da Marinha Grande, ao convidar a população do concelho a responder a um inquérito, cujos resultados podem ajudar a traçar um diagnóstico mais fiel do estado da saúde mental no município e a definir as políticas a seguir no âmbito do Programa Municipal de Saúde Mental.