Opinião

As alterações climáticas: mito ou realidade?

11 dez 2015 00:00

O mais pessimista prevê que a temperatura média do planeta poderá aumentar até 4,8 °C neste século – o que poderá resultar numa elevação até 82 centímetros no nível do mar e causar danos importantes na maior parte das regiões costeiras do globo.

Os principais fatores responsáveis pela alteração da linha de costa são a diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral, devido às barragens e a elevação do nível médio do mar. A subida do nível médio do mar é, presentemente, responsável em 10 a 15% pelo recuo da linha de costa. A diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos pelos rios ao litoral é a principal causa desse recuo. As barragens são responsáveis pela retenção de mais de 80% dos sedimentos que seriam transportados pelos rios em regime natural.

O rio Douro, principal fonte de alimentação sedimentar da costa até ao canhão submarino da Nazaré, numa situação normal (sem barragens), depositaria na embocadura cerca de 1.200.000 m3 de sedimentos por ano. Um estudo de 1990 refere que este valor desceu para 200.000 m3/ano.

Relativamente ao aumento da temperatura e à elevação do nível médio do mar, provocada pelas alterações climáticas, nomeadamente o degelo das calotes polares, os estudos são bastante controversos. As projeções apresentadas, no quinto relatório do Painel Intergovernamental, para as Alterações Climáticas (IPCC), de 27 de setembro de 2013, referem que caso as emissões de gases com efeito estufa continuem a aumentar, às atuais taxas, ao longo dos próximos anos, apontam vários cenários.

O mais pessimista prevê que a temperatura média do planeta poderá aumentar até 4,8 °C neste século – o que poderá resultar numa elevação até 82 centímetros no nível do mar e causar danos importantes na maior parte das regiões costeiras do globo. Muitas regiões costeiras vão sofrer forte erosão e milhões de pessoas terão de ser deslocadas de onde vivem hoje.

O cenário mais otimista aponta para o aumento da temperatura média do planeta entre 0,3 °C e 1,7 °C de 2010 até 2100 e o nível do mar poderá subir entre 26 e 55 centímetros ao longo deste século (cenário mais otimista).

Outras projecções (UE) referem um aumento da temperatura média do planeta, ao longo do século XXI, em relação aos níveis atuais, de 6ºC. São cenários demasiado díspares. No que se refere à subida do nível do mar durante o século XX as discrepâncias são menores, sendo consensual uma subida média de 2 mm/ano.

Se analisarmos a variação média da temperatura atmosférica nos últimos mil anos, verificamos que se verificaram grandes oscilações (ver imagem). A primeira ocorrida entre os anos 700 e 1200 foi caracterizada por uma amenidade climática que parece não ter tido paralelo em outros tempos históricos, e em que, provavelmente, o nível médio do mar ocupou posição igual ou ligeiramente superior ao atual.

Seguiu-se- lhe a Pequena Idade do Gelo, que se verificou entre os séculos XVI e XIX, tendo atingido o seu máximo por volta de 1825, altura em que o nível médio do mar atingiu valores cerca de 20 cm abaixo do nível atual. Estes factos e outros que ocorreram já no nosso período histórico são suficientes para admitirmos variações cíclicas no clima da terra, pelo que podemos inferir que as alterações climáticas que estão presentemente a ocorrer fazem parte dessas variações, admitindo algum agravamento provocado pelos gases com efeito de estufa e pela desflorestação.

*Geógrafo (MARE UC)