Opinião

Animais

29 jan 2023 10:12

Reconhecermos no outro a diferença e aproveitar essa surpresa de certo modo aumenta a nossa bagagem de formas de estar

Uma das coisas que aprendemos nos primeiros de anos de vida são o nome, a forma e o som dos animais. Mesmo sem nunca ver os animais, alguns mesmo em cativeiro, são os companheiros de peluche, os personagens dos livros e até as máscaras de carnaval.

Há animais mais conhecidos que outros, muitas vezes até são os que mais longe estão, como a girafa ou o tigre. Com o tempo a correspondência entre o conceito do animal, o nome, e a sua representação, pelos símbolos forma e som, estreita-se. Torna-se digamos assim, mais realista.

Ao mesmo tempo perdemos um pouco a fantasia de imaginar animais à nossa maneira. Já tive a oportunidade de anteriormente fazer uma aula de ilustração da história do nascimento da ilha de Timor com alunos da Escola José Saraiva, onde a representação dos momentos estava a cargo dos alunos, divididos por grupos. A ilha principal é da forma de um crocodilo, com um pouco de imaginação e crença na mitologia local.

Parte do exercício envolvia identificar quais as figuras e os cenários do segmento da história e envolver os alunos para em conjunto os desenharem. Cada um, ao seu estilo contribuiu, usando aquilo que é a sua bagagem de formas. Esse exercício feito com as nuvens é parecido. Se nos deitarmos na relva a olhar o céu podemos observar a metamorfose das nuvens em movimento. Todas as formas nos podem parecer alguma coisa conhecida, é aliás assim que nos relacionamos no mundo.

Ter as nossas referências e ir apurando, partilhando aquilo que somos com quem convivemos. Chama-se viver, na verdade. Reconhecermos no outro a diferença e aproveitar essa surpresa de certo modo aumenta a nossa bagagem de formas de estar. Impedir que haja essa aceitação, que o outro é um igual mas diferente, vai ao contrário dos valores de liberdade individual e social que defendo. Somos todos animais a conhecermo-nos.