Opinião

Além fronteiras…

29 mai 2021 15:40

Assistimos muitas vezes aos êxodos provocados pela pobreza em muitas geografias do mundo e às consequências de quem cá chega migrante, em busca de melhor sorte

É fácil fazer o elogio ao programa Erasmus +. Gerações inteiras de vários países puderam sentir aquilo que intercâmbios e viagens fazem pelo enriquecimento cultural e humano.

Uma gramática de partilhas em tempo de paz, de sonhos, conhecimento, experiências, cultura e sociedade.

Sentimo-nos todos mais portugueses quando vamos lá fora numa qualquer viagem. Um confronto que reforça essa identidade. Pelo menos comigo tem sido assim.

Escrevo esta primeira crónica no JORNAL DE LEIRIA a dar testemunho pela positiva, dando conta do projecto-piloto em que estou inserida, o SAAM.

SAAM – Supporting Alliance for African Mobility é um projecto em curso de muitas organizações internacionais, que tem como missão a abertura do projecto Erasmus a Africa no ensino profissional.

A palavra SAAM tem um duplo significado, pois é também uma palavra africana que significa ‘juntos’.

Esta organização é composta por 17 países africanos (Angola, Benim, Cabo Verde, Eritreia, Camarões, Costa do Marfim, Quénia, Libéria, Malauí, Nigéria, Senegal, Sudão, Tunísia, Chade, Mali, Burkina Faso e Gabão) e oitos Estados membros da UE (Bélgica, França, Alemanha, Grécia, Itália, Malta, Portugal e Espanha), com 32 organizações envolvidas no total.

Mais do que as múltiplas horas em burocracia “european style”, onde passamos à lupa a comparação dos sistemas de ensino – se é que podemos alguma vez comparar sistemas sem atender às circunstâncias, aos países, às várias condicionantes de todo o percurso – importa aquilo que resultará da mobilidade de profissionais de educação e estudantes, exactamente na mesma medida do programa que conhecemos pela Europa e as emoções desta identidade e intercâmbio de culturas.

Estamos na iminência da primeira viagem transcontinental: Nairóbi, no Quénia, onde Europa e Africa se encontrarão para começar a dar corpo a esta iniciativa.

Assistimos muitas vezes aos êxodos provocados pela pobreza em muitas geografias do mundo e às consequências de quem cá chega migrante, em busca de melhor sorte.

Mas a verdadeira aposta e um caminho mais eficaz (se bem que mais lento e mais penoso) será apoiar e capacitar os países e as razões na sua origem.

Competências e qualificações estão na base do desenvolvimento de qualquer sociedade. Distribuir riqueza é sempre mais fácil do que ajudar a criá-la, mas o caminho existe e pode ser feito, não tendo que sofrer inviavelmente da imponência de uma história bíblica. Eu pelo menos irei tentar.

Compreender a filosofia, a cultura, os costumes e o sistema de formação profissional do país de acolhimento serão as apostas desta etapa, e no final, tanto profissionais europeus como africanos terão melhorado o seu conhecimento sobre a internacionalização, as ferramentas e os itinerários educativos que podem ajudar centenas de alunos, com o respeito mútuo e integral pelas várias realidades.

Porque viver é partilhar, fica aqui o meu compromisso de fazer destas crónicas um testemunho. Para os que me leem e para os que ficam. Porque o que se escreve permanece intemporal.