Opinião

Afinal a geringonça funciona e recomenda-se

14 mai 2016 00:00

Tribuna Livre

Paul Krugman é um economista americano, professor em Princeton e prémio Nobel da Economia em 2008. É também colunista do The New York Times e assina um blogue que dá pelo título de “Consciense of a Liberal”. Foi convidado especial do VI congresso da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que teve lugar a 3 e 4 deste mês de Maio.

Foi trazido pelo Expresso que, a contragosto (a avaliar pelos conteúdos miseráveis que este jornal publica desde a instalação da “geringonça”) acabou por publicar o que ele disse. E o que disse Krugman? Que há espaço para reduzir a austeridade em Portugal e fazer alguma política expansionista e os mercados financeiros não irão entrar em pânico por isso.

Um ponto a mais no PIB não vai fazer diferença, mas pode tornar os sacrifícios mais toleráveis para as pessoas. O governo português, perante as imposições europeias, não tem grande manobra para alterar o quadro macroeconómico, mas sempre tem alguma.

Quanto aos riscos da sustentabilidade da dívida soberana portuguesa, afirma que serão mais fracos quanto mais forte for a economia, tanto a portuguesa como a europeia. Defende ainda que a Comissão Europeia deverá ser mais tolerante (tranquila), porque a rigidez das regras orçamentais não se adequa à natureza dos problemas e, além disso, os estados-membros não estão a ser tão indisciplinados assim.

Além disso, quando os grandes países violam as regras orçamentais isso é tolerado, de uma forma ou de outra. Devia também haver “perdão” para os países mais pequenos, porque uma economia europeia deprimida eternamente não interessa a ninguém. Elogia o BCE que, diz, “está a tentar fazer o sistema funcionar”, fazendo o que pode em termos de política monetária, “apesar de os deuses da economia não estarem ao seu lado”.

É o keynesiano Krugman a perceber que estamos a viver uma armadilha da liquidez, em que a política monetária pouco pode fazer, mas a orçamental é muito poderosa. E isto aprende-se nas primeiras aulas de macroeconomia! E termina com uma afirmação peremptória e desafiante: “Portugal não devia ceder à pressão de Bruxelas para que mantenha a austeridade”.

Conclusão: há dias, António Costa disse na AR que a “geringonça” afinal funciona. Agora, com este apoio pedagógico e autorizado de um Nobel da Economia, pode garantir que não só funciona como também se recomenda. PS1 – As sessões comemorativas do 25 de Abril na AR têm sido desajustadas. Este ano foram-no de novo.

Os partidos aproveitam-nas como tempos de antena e dos piores. Veja-se a intervenção de Paula Teixeira da Cruz este ano, um desastre. O 25A devia ser uma festa e não o é. A continuar assim não vale a pena comemorar. PS2- O “desacordo” ortográfico continua. Moçambique e Angola ainda não o ratificaram.

Cito o grande escritor brasileiro, já falecido, João Ubaldo Ribeiro: “A reforma ortográfica não enriquece o idioma, mas alguém enriquecerá com ela”. PS3- O PSD, que durante quatro anos mais não fez que asneiras e omissões, quer agora adiantar-se na realização das reformas estruturais, nomeadamente no processo eleitoral para a AR. Felizmente que A. Costa percebeu a tempo onde querem chegar: tentar tudo para dividir a “geringonça”. Cantam bem, mas não encantam.

*Economista

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