Opinião

À janela

12 set 2019 00:00

Ouvem-se os cães à distância, e quase mais nada, como se este recanto da cidade fosse este mesmo lugar, mas num outro tempo.

Do dia que muito lentamente se foi deixando terminar, a noite cresceu tépida e silenciosa, e da Lua ancorada fora do alcance da vista emana uma luz pálida e nevoenta onde se recorta a negro a sombra das árvores.

Ouvem-se os cães à distância, e quase mais nada, como se este recanto da cidade fosse este mesmo lugar, mas num outro tempo. As casas, as ruas, as árvores, os muros e os candeeiros, ganham a impressionante presença que nasce da quietude, do não haver antes nem depois, do simples estar, sem princípio nem fim.

Da janela, feita moldura para a imensa copa da árvore que quase a toca, carregada de folhas que imperceptivelmente se agitam à passagem do ar, o mundo deixa-se olhar com a indiferença e a tranquilidade do que não precisa de ser olhado para plenamente existir.

Respirar. Deixar que a calma chegue. Distender o corpo. Perceber o sossego. Procurar a lentidão. Entender como o Tempo medido de outra forma possa ser a eternidade. Deixar pousar na pele um longo e suave arrepio morno causado pelo aliviar da pressa, do compromisso, do prazo a terminar, do ter que ser.

Estancar o eu que faz, e fazer lugar para o eu que é. Um gato sobe vagarosamente a rua, e pára, e recomeça depois a subi-la.

Há-de voltar a parar, imóvel, no meio da rua, olhando atentamente o escuro sem se importar com o vulto que se desenha ao fundo e se aproxima num passo lento e seguro, abandonado ao prazer do caminho. O prazer do caminho. O saber para onde caminhar. O não precisar sequer de saber. O

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