Opinião
A importância da inteligência emocional: uma reflexão pessoal
Muitas pessoas vivem em sofrimento silencioso, e muitas crianças crescem a aprender conteúdos escolares sem nunca aprenderem a nomear aquilo que sentem
Ninguém escolhe o lugar nem o tempo em que nasce, mas esses fatores moldam profundamente a nossa visão do mundo. Eu nasci na Ucrânia, numa época em que o meu país ainda fazia parte da União Soviética. Cresci numa sociedade fechada e amedrontada, onde a expressão emocional era vista como fraqueza e, por isso, reprimida. Num pais onde a sistema silenciava as emoções.
A ideologia comunista procurava criar cidadãos iguais em tudo — sem pensamento crítico, sem identidade individual e, sobretudo, sem espaço para emoções. Mostrar sentimentos era perigoso. Quem se expressava de forma diferente era mal visto e, muitas vezes, punido de forma subtil ou explícita. Isso gerava um enorme desconforto interior, acompanhado de sentimentos de culpa e vergonha.
Muitos talentos foram abafados, muitos sonhos nunca chegaram a nascer. O sistema quebrou emocionalmente gerações inteiras. Crescemos fechados, frios, com feridas invisíveis mas profundas. E tudo isto porque não sabíamos — e nem nos deixavam — expressar o que sentíamos.
Ninguém nos ensinou o que hoje se chama inteligência emocional. Não sabíamos identificar o que sentíamos, muito menos gerir e comunicar essas emoções. Isso teve impacto em todas as áreas da vida: nas relações, na forma como nos víamos e até nas escolhas que fazíamos.
Depois de viver em Portugal durante 22 anos, percebi que também aqui a inteligência emocional é muitas vezes ignorada. Somos diferentes em história e cultura, mas semelhantes na forma como negligenciamos este tema. Na minha opinião, a inteligência emocional é uma questão global, que atravessa fronteiras e toca toda a humanidade.
O mais preocupante é perceber que, apesar de tantos avanços sociais e tecnológicos, a inteligência emocional continua a ser desvalorizada. Muitas pessoas vivem em sofrimento silencioso, e muitas crianças crescem a aprender conteúdos escolares sem nunca aprenderem a nomear aquilo que sentem.
Saber identificar, acolher e expressar emoções é uma competência essencial para qualquer ser humano. É isso que permite criar relações saudáveis, fazer escolhas conscientes e viver com autenticidade — seja na vida pessoal ou profissional.
O que podemos fazer?
É urgente dar mais espaço à educação emocional — nas escolas, nas famílias, nos locais de trabalho. Falar sobre emoções, normalizá-las, criar ambientes seguros para o diálogo e o autoconhecimento é um passo fundamental para uma sociedade mais saudável.
Talvez não tenhamos tido essa oportunidade em crianças, mas podemos sempre aprender, reaprender e ensinar. Porque nunca é tarde para cuidar da nossa saúde emocional — e a verdadeira mudança começa dentro de cada um de nós.