Opinião

A caverna... Queria dizer “A Escola”.

11 dez 2015 00:00

Os exames e a sua pedagogia são de facto a resposta sombria para uma panóplia de problemas sociológicos, políticos, técnicos e psicopedagógicos que os respectivos responsáveis não conseguem resolver.

Imaginemos um grupo de homens aprisionados desde o nascimento numa caverna. Obrigados a estarem sentados, lado a lado e quietos, apenas conseguem ver, ao longe, o fundo da caverna.

Uma fogueira, que alguém mantém acesa e figuras (de objectos e seres que existiam fora da caverna) manipuladas por outros homens projectam nas paredes todo o tipo de sombras. Àquelas pessoas o mundo exterior é-lhes dado a conhecer através dessas sombras.

Essas sombras são a realidade para aqueles homens. Passados anos, para que outras crianças entrem na gruta, esses homens vão sendo libertados e podemos imaginar o que cada um sentirá ao sair da caverna: um temor imenso; uma sensação de incapacidade para lidar com a realidade; uma impreparação total para a vida concreta; em estado de alerta permanente, prontos para a agressão, perante a ameaça do desconhecido.

Esta situação que retirei do documentário “La Educación prohibida” obriga-nos a reflectir sobre a desadequação da Escola e da sua didáctica entendida há séculos como a arte de ensinar. E, é no seio desta desadequada e falsa educação, onde se aprende a fingir, um conhecimento fingido, que não entendo como podem alguns professores irritar-se com o fim dos exames.

Exames que também só a fingir afirmam avaliar o conhecimento dos alunos! Será que a esses professores lhes é indiferente serem apenas meros operários na produção de “sombras”, em vez de artistas? Nada mais falso do que considerar que existe uma relação simétrica entre a existência de exames e a melhoria na qualidade dos sistemas educativos. Se assim fosse a alteração de um provocaria a alteração de outro e o que observamos contraria essa relação.

Os exames e a sua pedagogia são de facto a resposta sombria para uma panóplia de problemas sociológicos, políticos, técnicos e psicopedagógicos que os respectivos responsáveis não conseguem resolver. Através dos exames convertem-se os problemas sociais em problemas pedagógicos – são as más práticas dos professores e das escola e não as más políticas, as responsáveis pela exclusão de tantos de uma vida digna ou de um melhor futuro!

A didáctica reduz-se á um conjunto de técnicas de preparação para o exame – as aulas enquanto concebidas como espaços de reflexão, debate e confrontação de pensamentos originais, não podem existir! Só há tempo para transmitir a matéria que pode sair no exame e o que no exame se pode medir; os problemas teóricos da educação ficam reduzidos ao âmbito técnico da avaliação – sim, porque se só se trabalha para os exames o que interessa discutir em educação, para além de técnicas e métodos de avaliação?

Pela minha parte aplaudo o fim dos exames do 4.º ano mas confesso, quero mais! Quero, no Ministério da Educação do meu País, alguém que compreenda e não suporte a horrível semelhança da caverna de que vos falei no início, com a Escola onde, obrigatoriamente, as nossas crianças têm de estar. Sim, é isso que eu quero!

 

*Professora