Opinião

A Astúcia da Razão

18 mai 2018 00:00

De acordo com o filósofo alemão, G.W. Friedrich Hegel (1770-1831) a Historia Universal é a concretização da Ideia da Razão através de uma sucessão de “Espíritos Nacionais”.

Estes consumam-se pelos feitos dos Heróis ou indivíduos de importância Mundial, como os citados pelo pensador: Alexandre, o Grande; César ou Napoleão.

Confrontado com a dificuldade que estes Homens tiveram em impor a sua visão, com as consequências das rupturas que fizeram e pela própria “irracionalidade” dos meios usados para atingirem os seus fins, Hegel elabora uma resposta sobre a forma da Astúcia da Razão.

Sem deixar cair o seu edifício Histórico-Ideológico, Hegel afirma que essa “astúcia” é a forma da Razão operar sobre as “paixões” dos Homens, levando-os a cumprir o desígnio do seu tempo.

Num país onde falar de “Espírito Nacional” (entendam apenas a palavra no seu uso filosófico) é despertar alarmes e fantasmas, ele existe amordaçado aos Campeonatos do Mundo ou Europeus de futebol; ou numa noite de fadas em Kiev com o nosso mal-amado (em 2018) festival mas tem pouco que se lhe diga enquanto empreendedor de uma nova etapa na nossa História local e no mundo.

Esta semana os assuntos da ordem tiveram todos a ver com violência. Nenhum de nós consegue ver a astúcia da razão a operar, nem quando fazemos futurologia optimista, quando está Sol, como hoje, em homens como Bruno de Carvalho ou Trump, e que dois para juntar numa só frase.

Não há comentário possível a fazer ao ataque da Academia do Sporting. É uma bomba de pregos lançada na cara da nossa segurança e do nosso lazer, que são coisas que desaparecerem do futebol. Ponto final. Não há mais comentários possíveis a fazer ao acto de guerra que foi a inauguração da embaixada norte-americana em Jerusalém e o reconhecimento unilateral desta como capital Israelita.

Eu já estive em Israel a tocar. Não boicotei. Acho inútil esse boicote. Respeito quem o faça, mas, na verdade, não só não adianta, como não salva e não resolve. Abrir um precedente assim é deixar de tocar por exemplo nos EUA, na Rússia, na Suíça, na Hungria, na Polónia que tem cerrado fronteiras e aumentado a pressão sobre todos nós, incautos viajantes.

O que é o contrário da astúcia da Razão? É a ausência de separação entre o Eu e o desígnio, clube, empresa ou nação. É pensar e reagir pessoalmente a algo que é bem mais vasto que a nossa vaidade, entusiasmo, ou pequena razão. É não ver the big picture.

É não saber controlar esse demónio que somos nós próprios. Nem o presidente do Sporting Clube de Portugal, nem o presidente do “Mundo Livre” sabem fazer isso. E essa incapacidade resulta em violência. Não tarda, as árvores na floresta começam a ser todas iguais.

É o desengano de que por votar, a maioria manda e tem capacidade de mudar. É chegar ao grau zero e não perceber que já se lá chegou e que tudo a partir de agora será diferente. Podíamos dizer que a razão está burra , que já não age como uma raposa, ágil e subtil, a mandar Napoleão invadir a Rússia e acabar com Impérios que já não faziam sentido depois de todo o sangue derramado.

E nós, estaremos assim tão anestesiados pelos ecrãs que já tudo parece normal, que não podemos dizer aos nosso filhos que é a fingir e que o Pai nunca mais vai tocar em Israel não para salvar a Palestina, não porque é um herói, ou um activista, mas porque tem medo de levar um tiro?

Não é fácil sermos justos ou corajosos. Mais fácil seria que a minoria que de facto manda no mundo, e que matou a nossa Razão, assim o quisesse, que Israel não ocupasse mais ou que o Bruno não falasse mais.

Desculpem juntar tudo no mesmo saco, sinais do tempo.Era bom sentir, uma vez na vida, que a gente manda mesmo alguma coisa no mundo em que vivemos.

*vocalista e líder dos Moonspell