Sociedade

Voluntária radicada em Leiria estabeleceu ponte para trazer refugiados

11 mar 2022 15:19

Apesar da zona mais tranquila, Mariana Iatskanych confessa que o seu coração “está sempre a bater” com mais força.

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Mariana Iatskanych está em Leiria há 13 anos e assim que a família a avisou que a “guerra tinha começado” contactou com a Ucrânia para criar uma ponte que pudesse trazer refugiados para Portugal.

Quando o mundo acordou com a invasão da Rússia, Mariana Iatskanych recebeu notícias da família a dizer que a “guerra tinha começado” e o “coração começou a bater” com mais força, relata.

Rapidamente pensou em como ajudar "para ir buscar familiares ou ajudar as pessoas que estão a fugir do fogo”, disse a Mariana Iatskanych.

Assim que a organização da Câmara de Leiria e os voluntários reuniram os bens para enviar para a Ucrânia, decidiram que poderiam avançar carrinhas para trazer refugiados. “Começámos a fazer a lista com refugiados, a contactar quem é que estava e onde. Falámos com voluntários da nossa terra para juntar todos no mesmo sítio até achegarmos e depois fizemos o corredor para passar a fronteira e chegarem até cá. Graças a Deus, com a ajuda da Câmara, conseguimos fazer isto”, agradeceu a voluntária, que não esquece a ajuda portuguesa.

Durante uma semana só dormiu três horas por dia. Deitava-se às duas da manhã e às cinco o telemóvel começava a tocar com telefonemas da Ucrânia. “Estávamos muito preocupados para que tudo corresse bem. Agora as pessoas estão aqui e o pessoal de lá também está a dizer que as coisas estão a tranquilizar. Já passou aquela altura do choque que apanhámos todos. Estou a perceber que estou a ficar muito cansada e a precisar de descanso”, admitiu, sempre com um brilho nos olhos.

Dos 21 refugiados que ajudou a trazer e que chegaram na quarta-feira a Leiria está uma colega de escola. “Só contactávamos por mensagens e trocávamos fotografias. No dia 26, mandou-me uma mensagem: ‘Mariana, ajuda-me. O que é que tu podes fazer por nós, como é que a gente consegue chegar a Portugal?’”, relatou.

Passou o contacto da amiga ao voluntário na Ucrânia para a incluir nos refugiados a trazer. “Quando lhe ligaram, ela só chorava, não conseguia falar, nem conseguia dizer onde é que estavam. Depois de se acalmar, explicaram e passadas 13 horas juntaram-se aos nossos voluntários”, afirmou.

A amiga chegou com a sobrinha e a irmã, que ainda não conseguem parar de chorar.

Natural de Transcarpátia, uma região mais perto da Hungria, afirma que a sua localidade “é mais calma”. “Mas sabemos que as pessoas a partir dos 16 anos não conseguem sair e têm que ir para a tropa como militares. A minha família também está lá e o meu irmão também é militar”, revela.

Apesar da zona mais tranquila, Mariana Iatskanych confessa que o seu coração “está sempre a bater” com mais força.

Sobre o irmão, diz não poder revelar grande coisa. “A minha mãe só me disse que ele está bem. De vez em quando ele liga. Mas estamos sempre preocupados, porque se um dia não mandar mensagens, sabem como é... Tenho o coração a bater. É o meu único irmão”, conclui.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de Fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 516 mortos e mais de 900 feridos entre a população civil e provocou a fuga de mais de 2,3 milhões de pessoas para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados das Nações Unidas.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.