Abertura

Vício pelas redes sociais arrasta cada vez mais adultos

1 jul 2021 09:32

Assinalou-se ontem, 30 de Junho, o Dia Internacional das Redes Sociais. O JORNAL DE LEIRIA foi conhecer uma das facetas mais perversas destes produtos digitais, que, de forma silenciosa, viciam jovens e adultos

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Vício das redes sociais não é um problema reservado às gerações mais novas
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

Tem uma carreira profissional na área das artes e costuma trabalhar com prazos precisos para entregar as suas obras. Mas, desta vez, o artista vai ter de passar as próximas semanas a pintar, de dia e de noite, tentando concluir a tempo o conjunto de trabalhos que a galeria lhe solicitou há meses.

Sabia, de antemão, que desrespeitar prazos com esta galeria lhe podia encerrar todas as portas do meio. Mesmo assim, até agora o pintor não foi capaz de colocar um ponto final nas longas horas gastas com vícios, entre os quais, o das redes sociais.

Infelizmente, o caso deste paciente está longe de ser único, explica Nuno Albuquerque. Formado em Gestão de Abuso de Substâncias na Universidade de Kent, no Reino Unido, país onde tem trabalhado nos últimos anos, o especialista leva um percurso de mais de duas décadas de tratamento dos mais diversos tipos de dependências, em clínicas de Portugal, Suíça, Reino Unido e Macau.No nosso País, continua a colaborar activamente, através do Instituto de Apoio ao Jogador (que trata adição ao jogo e outras dependências sem substância).

Quanto ao vício das redes sociais, observa o técnico, não é um problema reservado às gerações mais novas, arrastando um conjunto muito heterogéneo de adultos, dos mais diversos contextos sócio-económicos. “Tenho uma paciente, de trinta e alguns anos, que a princípio chegou até mim devido à dependência de álcool e de cocaína, também de co-dependência, e que, descobrimos depois, também estava registada em várias aplicações de convívio e de encontros. Também tem este tipo de dependência, ao qual nem sequer tinha dado valor”, conta o especialista.

“Chegam-me muitas pessoas com 30, 40 e 50 anos, entre as quais também mães e donas de casa, com muitas adições cruzadas. Falam de adição às compras, às drogas, ao álcool, mas, quando partimos para a terapia, detectamos muitas vezes que também estão dependentes de internet e de redes sociais”, relata Nuno Albuquerque.

Longe de querer diabolizar estes produtos digitais, que “têm ajudado a população a manter a saúde mental durante longos períodos de confinamento, proporcionando às crianças o contacto regular com os amigos da escola, e a ligação dos idosos com as suas famílias”, o especialista salienta que o princípio da dependência das redes sociais é exactamente como o de todas as outras adições.

“Tal como sucede com as drogas, há pessoas que usam as redes sociais na tentativa de se sentir melhor”. O problema já existe na pessoa, que usa este veículo, o não quer dizer que todas as pessoas que usem redes sociais cheguem a um quadro de dependência, frisa. E, tal como noutras adições, também esta tem um grande impacto negativo na vida de quem é dependente.Na relação conjugal, na relação com os amigos e no contexto profissional. Porque quando existe dependência, a utilização das redes sociais sobrepõe-se a todas as responsabilidades do indivíduo.

Vício não é claro de imediato

Cristina Barroso, psicóloga e coordenadora do Centro de Respostas Integradas de Leiria, refere que, apesar de crescente, continua a ser pequeno o grupo de pessoas que procura o CRI para tratar dependências de internet, redes sociais e jogo. Não só porque muitas pessoas ainda associam o apoio do CRI ao tratamento exclusivo de dependências de drogas e de álcool, mas também porque muitas famílias ainda estão pouco sensibilizadas para o facto de as re

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