Opinião

Uma obra que fazia falta

6 abr 2017 00:00

A concretizar-se o projecto de acessibilidade ao castelo de Leiria, de que publicamos algumas imagens nesta edição, a cidade ficará, sem dúvida, mais próxima do seu principal monumento.

As críticas surgirão, como surgiriam se a proposta fosse outra, como, de resto, já aconteciam pela falta do equipamento.

Nestas coisas das obras públicas já se sabe como é, nunca se consegue agradar a todos, é-se preso por ter cão e por não ter. Como escreveu Nietzsche, “o que fazemos nunca é compreendido, mas somente louvado ou condenado”.

A verdade é que o Castelo, ícone da história da cidade e responsável por boa parte da sua identidade, sempre foi um local de difícil acesso, principalmente para quem tem limitações motoras, havendo muitas pessoas que se ficam por admirá-lo de longe, tentando percebê-lo por dentro através da imaginação.

Mas o problema não se confina ao castelo, pois também a sua zona envolvente, onde estão a igreja de S. Pedro, o m|i|mo e a PSP, é de acesso difícil, inibindo muitos dos que gostariam ou necessitariam de ali se deslocar.

Ou seja, os elevadores, a Sul, e o ascensor, a Norte, além de poderem contribuir para dinamizar o turismo de Leiria, que bem precisa, aproximarão as pessoas de toda aquela zona, democratizando a ‘alma’ da cidade.

Dos mais puristas, muito provavelmente, ouvir-se-á dizer que este projecto agredirá a estética do património e a paisagem envolvente, além das críticas por permitir aumentar substancialmente o número de visitantes a um local sensível, como é obrigatoriamente um edificado com cerca de nove séculos.

É uma forma de encarar o património conservadora, diferente da corrente que o vê como algo mais do que as suas paredes e que entende que este deve ser vivido e dinamizado, cruzando a sua história com iniciativas contemporâneas.

Haverá também quem olhe para este projecto como uma auto-estrada, fazendo já contas às cabeças que entrarão pela sua porta e à quantidade/diversidade de eventos que este poderá receber, esquecendo-se, eventualmente, que o pavilhão multiusos não será ali mas sim perto do estádio.

Será entre estas duas perpectivas que estará o bom-senso que deve imperar na gestão de um património tão importante, não o colocando numa redoma de vidro nem fazendo dele salão de festas. Cada coisa no seu lugar, costuma dizer-se.

Mas a verdade é que muitas vezes te-mo-nos esquecido disso, fazendo verdadeiras invasões hostis ao espaço público, com iniciativas nada adequadas ao mesmo. Leiria, como outras cidades da região, tem sido palco disso, numa lógica do vale tudo para mostrar serviço e para conseguir algum movimento nas zonas históricas.

A intenção até pode ser a melhor, mas o resultado é geralmente duvidoso e nem sempre dignifica o espaço e as pessoas que o frequentam. Esperemos que isso não aconteça com o Castelo devido a uma obra que fazia falta.

*director do JORNAL DE LEIRIA