Sociedade

Sérgio Ribeiro: Uma vida de luta por ideias

24 set 2016 00:00

Militante do PCP, foi preso duas vezes pela PIDE, Sérgo Ribeiro esteve encarcerado no Aljube e em Caxias. Desde o 25 de Abril, concorreu 16 vezes às eleições autárquicas em Ourém.

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Maria Anabela Silva

A vida de Sérgio Ribeiro - ou episódios dela - já deu alguns livros. Ou não fosse a escrita uma das coisas que mais gosta de fazer e a sua vida tão intensa e preenchida. São 80 anos de dedicação aos ideais em que a acredita e a servir a política “além das próprias forças”.

Militante do PCP, foi preso duas vezes pela PIDE e esteve encarcerado no Aljube e em Caxias. No pós-25 de Abril, trabalhou como técnico das Nações Unidas em África, foi professor universitário, eurodeputado e deputado na Assembleia da República. Por 16 vezes, concorreu às eleições autárquicas em Ourém.

Para perceber o percurso de Sérgio Ribeiro é preciso recuar até à sua infância e juventude, passadas em Lisboa, onde o pai, natural do Zambujal, uma pequena aldeia dos arredores de Ourém, se fixou.

“Cresci num ambiente de não aceitação do regime fascista e de defesa da democracia e da liberdade. O meu pai tinha apenas a 4.ª classe. Não tinha hábitos de cultura, a não ser o de ir ao teatro, que me pegou. Mas, sem saber como nem porquê, era anti-clerical, republicano e anti-fascista”, conta Sérgio Ribeiro, realçando ainda a influência de alguns amigos do pai, como Artur de Oliveira Santos, administrador de Ourém aquando das designadas aparições de Fátima.

Com naturalidade, foi tomando consciência de que “não gostava” do que via à sua volta e da vontade de “querer mudar as coisas”. Começou a ir às comemorações do 5 de Outubro no cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Vieram as primeiras fugas à GNR que, nesses encontros, “carregava” nos estudantes.

Esta sua actividade de luta contra o regime intensificou-se com a entrada na Faculdade de Economia e a colaboração com a Associação de Estudantes (AE). “O meu pai passou-me também o gosto pelo associativismo. Esteve ligado a várias colectividades. Fundou a Casa de Ourém em Lisboa, da qual fui sócio fundador, e organizou a primeira excursão de oureenses a viver em Lisboa à sua terra natal.”

Durante os tempos de faculdade, Sérgio Ribeiro colaborava em várias secções da AE, nomeadamente, na organização de actividades desportivas que serviam também como oposição ao regime. É disso exemplo a tentativa da Mocidade Portuguesa de “arrancar as AE do associativismo estudantil, passando a organizar campeonatos de futebol, onde oferecia tudo: estádio nacional, botas com pitões e equipamento do melhor”.

Em resposta a esse “aliciamento” surgiram os TIAS – Torneios Intra- -Associações, disputados “em campos pelados e com botas travessas”. “A participação no TIAS era uma recusa ao regime”, conta Sérgio Ribeiro, que, em 1957, se sagrou campeão universitário de futebol.

O dia em que a morte saiu à rua

A adesão ao PCP acontece, “de forma natural”, em 1958, no mesmo ano em que termina o curso, passando a integrar a célula de economistas do partido. Desses tempos, são muitas as histórias e os episódios, mas há um que o marcaria para sempre: o assassinato do camarada José Dias Coelho, que Zeca Afonso imortalizou na música A morte saiu à rua.

Nesse dia, Sérgio Ribeiro ficou de ir buscar aquele funcionário do partido para uma reunião. Mas, à hora e no local combinado, ele não apareceu. Tinha sido interceptado e morto pela PIDE. Só dias depois souberam da morte através de uma notícia do jornal. “O episódio marcou-me toda a vida”. De tal forma, que, há dez anos, quando saiu da anestesia, “após a operação a um cancrozito”, a primeira coisa de que falou foi desse dia.

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