Viver

Rock'n'roll renasce em Pombal

3 jun 2017 00:00

Banda The Hecklers tem um ano e meio e vive “na casa das bandas” na Charneca.

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Pombal, o pequeno concelho que oferece a quem o visita paisagens que vão da serra ao mar, tem também uma cultura musical, ainda que, por vezes, oculta, transversal a todos os estilos musicais - ou quase todos.

A confirmá-lo, além do historial de bandas e projectos musicais que a cidade viu e vê crescer - mesmo com adversidades -, estão os The Hecklers. Têm um ano e meio de vida, muitos cartuchos para queimar, quilómetros de estrada para andar e até “uma sepultura” a levantar.

Não, não vão desenterrar nenhum fantasma, mas este grupo, constituído por Tiago Ferreira (baixo e voz), Catarina Ribeiro (voz principal), Carlos Marques (guitarra e voz), Emanuel Costa (bateria) e Gonçalo Parreirão (guitarra), quer fazer “renascer o Rock'n'- roll” em Pombal.

De ontem para hoje
O primeiro concerto que deram foi no Marquês Garden Fest, em Julho do ano passado, quando Gonçalo Parreirão, recém-chegado para ser o novo guitarrista, ainda estava a conhecer os cantos à casa.

Porém, não se pode dizer que abria a janela de um admirável mundo novo, pois o músico também integra a dupla Red Italian Hunter, onde partilha o palco com um baterista. “Disseram-nos que achavam que estávamos muito bem preparados para o concerto. E o Gonçalo ainda só tinha três meses e meio de ensaios”, conta Catarina Ribeiro.

Os movimentos migratórios, tão conhecidos de quase todos os jovem de Portugal, estão, em parte, na génese dos Hecklers. As vicissitudes da vida fizeram com que a banda Rebel Azer, da qual faziam parte Carlos, Emanuel e Tiago, visse o seu vocalista emigrar para Londres.

Desfalcados, resolveram não capitular à inércia dos acontecimentos e os holofotes incidiram sobre Catarina Ribeiro, já conhecida do trio e membro do projecto Miss Cat e o Rapaz Cão, que lançou o seu mais recente álbum, Mia e Ladra, no sábado em Leiria.

“Lembrámos-nos de falar com ela. Pensávamos que uma voz feminina era capaz de funcionar bem na nossa banda. E funciona”, afirma o baixista, Tiago Ferreira. As entranhas da banda As idades desta jovem banda, “jovem”, pelo menos para os que encontram a jovialidade no seu corpo e pensamento e não no cartão do cidadão, vão dos 23 aos 37 anos.

Não vale a pena tentar procurar o “avozinho”, pois a franja de idades não é uma condicionante. Pelo contrário, abre espaço para que bandas de diferentes gerações sejam um referente para o grupo. Eagles of Death Metal, Black Rebel Motorcycle Club, The Doors e Pink Floyd são alguns dos nomes que os ouvidos mais perspicazes podem encontrar no estilo que caracteriza os Hecklers.

Carlos Marques vinha da onda heavy metal e chegou ao rock aos “apalpões”. Entre risos, recorda alguns comentários de quando se adaptava ao novo registo. “Diziam que se notava que era 'betão armado' a tocar, mas fui evoluindo”. Deixou-se permear por sonoridades mais psicadélicas e sacou o pó aos discos old school.

O grupo inspira uma confiança tão singular que talvez só fosse equiparável à do homem suspeito que distribui guloseimas às crianças à porta da escola. Mas aqui não há o que temer. Afinal, estamos em “casa” e a música que corre pelas paredes, onde, emolduradas, descansam t-shirts de grandes nomes nacionais e internacionais, convidando-nos a deixar o corpo explodir em dança, após ter já tomado o nosso pé, que já bate ao compasso da tarola.

Para os Hecklers, a banda é o resultado da soma de todas as partes e das características de cada um dos músicos. Carlos Marques afirma que a definição da banda “é um bocadinho de todos o que está a proporcionar aquilo que nós somos”.

ADAC
A “casa das bandas”

A Associação Desportiva Amadora da Charneca (ADAC) soprou este ano 42 velas e esteve sempre na vanguarda do movimento musical em Pombal. Teríamos de recuar alguns anos para recordar os momentos em que My Cubic Emotion, More Than a Thousand, Hills Have Eyes, Bizarra Locomotiva e tantos outros, enchiam a sala de espectáculos.

As pulsões concentradas naquele espaço pareciam capazes de fazer ruir as firmes paredes. Mosh Pits, Walls of Force e muitos Two Steps materializam, agora na memória, parte da história da associação.

O baterista dos Hecklers, Emanuel Costa pensa que “se calhar, faltava a Pombal uma Adac” localizada no centro da cidade e reclama a “falta de incentivo e apoio, por parte do município”, às bandas locais.

Utiliza o exemplo das Festas do Bodo, onde, nos dias-chave, não há artistas da cidade na programação. O que faz com que as bandas não consigam “dar realmente projecção aos seus trabalhos e mostrar o que por Pombal se faz”.

Bruno Lopes com JSD

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