Sociedade

Região acolhe 25% dos cidadãos do Uzbequistão a viver no País

27 jan 2019 00:00

Leiria e os concelhos à volta acolhem cerca de 250 dos perto de mil uzbeques que residem em Portugal. Muitos, como Bakhtioy e Ferangiz, dedicam-se à área da restauração.

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Maria Anabela Silva

Chegou em 2002, no auge da vaga de imigração de Leste que respondeu à grande procura de mão-de-obra que se sentia no País. Aos 25 anos, Bakhtioy Sodigov (na foto) deixou a família e o negócio que tinha Uzbequistão e, por influência de conterrâneos seus, que lhe diziam que “aqui havia muita necessidade de pessoas para trabalhar”, fixou-se em Leiria.

Durante oito anos, trabalhou como ajudante de mecânico até que, já com a família reunida em Portugal, arriscou num negócio seu, com a abertura de um pequeno espaço de venda de kebab, uma das especialidades gastronómicas do seu país, no Largo do Tribunal, em Leiria.

Passado pouco tempo, estava a mudar-se para um espaço maior nas proximidades, onde ainda se mantém. Abriria um segundo estabelecimento na cidade, junto à estrada da Marinha, que entretanto fechou “porque o dono do edifício quer vendê-lo”, e prepara-se para lançar um franchising do Diora, na cidade de Gaia.

Bakhtioy Sodigov, hoje com 41 anos, é um dos cerca de 250 uzbeques que vivem na região, número que corresponde a cerca de um quarto dos cidadãos naturais do Uzbequistão a residir em Portugal e que rodam os mil.

“A comunidade do Uzbequistão sente-se em casa em Leiria”, afirmou Jakhongir Ganiev, embaixador deste país asiático em Madrid que, na semana passada, esteve em Leiria, onde reuniu com o presidente da Câmara e com elementos da comunidade radicada na região (ver caixa).
Ferangiz Ziyoeva não participou no encontro, mas concorda com o embaixador.

“As pessoas são muito acolhedoras e simpáticas. Não são racistas”, diz a jovem, de 20 anos, que chegou a Leiria em 2011, com o irmão, para se juntarem aos pais.  Os primeiros tempos não foram fáceis.

“Cheguei em Julho e em Setembro comecei as aulas. Fui para o 8.º ano e não sabia falar. Chorava todos os dias e cheguei a recusar-me a ir à escola”, recorda. Aos poucos, os obstáculos foram sendo vencidos.

Ferangiz Ziyoeva ainda pensou seguir a área de artes no secundário, mas influenciada pela mãe -, que depois de vários anos a fazer limpeza ao mesmo tempo que estudava português, abriu o  restaurante Bukhara Kebab, localizado na zona da Estação – acabou por fazer o curso de Cozinha e Pastelaria na Escola Profissional de Leiria.

Estagiou no restaurante Matilde Noca e começou recentemente a trabalhar na Taverna do Alberto. Agora que entrou no mundo da cozinha, diz que “não quer outra coisa” e ambiciona abrir um espaço onde possa mostrar a cultura e a gastronomia do Uzbequistão, que “é muito mais do que kebab”. “Quero ganhar experiência na cozinha. Mas o meu sonho é poder dar a conhecer o meu país.”

Localizado na Ásia Central, o Uzbequistão tem cerca de 447 mil metros quadrados (área quase cinco vezes superior à de Portugal) e aproximadamente 32 milhões de habitantes, 60% dos quais com menos de 25 anos, segundo refere o site da embaixada em Madrid. Em termos religiosos, é um país “laico”, onde a maioria da população é muçulmana. A língua oficial é o uzbeko.


 
Diplomata recebido na Câmara
Embaixador agradece acolhimento à comunidade


O embaixador do Uzbequistão em Madrid, Jakhongir Ganiev, esteve, na semana passada, em Leiria. Na sexta-feira, foi recebido na Câmara Municipal, onde agradeceu o acolhimento que tem sido dado aos cidadãos oriundos daquele país radicados na região.

“A comunidade do Uzbequistão sente-se em casa em Leiria”, disse Jakhongir Ganiev, citado por uma nota de imprensa do Município. O embaixador, que esteve acompanhado do cônsul em Madrid (o Uzbequistão não tem embaixada nem consulado em Portugal), manifestou o desejo de estabelecer relações de cooperação entre cidades daquele país e Leiria, nomeadamente na área cultural.

Por seu lado, o presidente da Câmara realçou que o Município deseja contribuir para a integração dos residentes daquele país na sociedade leiriense. “Temos grande abertura para relações com várias sociedades.

Entendemos que neste mundo cada vez mais global devemos ser cooperantes”, realçou Raul Castro. No dia anterior, o embaixador e o cônsul reuniram com elementos da comunidade uzbeque na região, tendo sido acordado a abertura de um gabinete de apoio em Leiria.