Sociedade

Quem quer ir à tropa e porquê? A vocação de Inês e Viktoria

29 mar 2018 00:00

Os jovens voluntários que se entregam a uma vida militar são uma minoria com um sonho.

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Quartel da Cruz da Areia. Os olhos azuis, a pele clara e o cabelo loiro expõem as raízes de Viktoria Ihorivna, que as linhas do rosto confirmam sem margem para dúvidas. Natural da Ucrânia, está no Exército português em regime de contrato, há nove meses. Recruta em Abrantes, especialidade na Póvoa de Varzim, colocação em Leiria. Tem 22 anos e um sonho: seguir as pisadas do pai, antigo militar de operações especiais. Cresceu a admirar-lhe a coragem, uma palavra de cada vez, como quem devora um romance de espionagem. "Apaixonei-me pelas histórias dele, as coisas que ele contava para mim". A soldado que todos os dias se apresenta na cozinha do Regimento de Artilharia N.º 4, com expectativas de ingressar no curso de sargentos, faz parte da minoria de jovens para quem as Forças Armadas constituem um objectivo de vida. E que vêem nos valores da instituição um significado maior. Depois do fim do serviço obrigatório, a renovação do Exército, da Marinha e da Força Aérea depende dos voluntários. Quem são e o que os move? 

Em Portugal desde o início da adolescência, Viktoria Ihorivna concluiu o ensino secundário e trabalhou numa fábrica de componentes para automóveis, a Iber-Oleff, em Pombal. Na hora de mudar o futuro, a influência de amigos e da família, em especial "uma conversa bastante longa" com o pai, convenceram-na a vestir a farda. A mãe preocupa-se com a escolha, mas a vocação fala mais alto. A vocação e o exemplo. "O exército mudou bastante o meu pai, ele costuma até brincar e dizer que era puto antes de entrar para a tropa, por isso, o carácter dele e personalidade, a tropa mudou-o bastante, para muito melhor", sublinha a portuguesa nascida no Leste da Europa.

Houve momentos em que ameaçou quebrar, nas primeiras semanas em Abrantes, mas a voz de casa, do outro lado do telefone, nunca lhe falhou, às vezes de mansinho, outras a ralhar, sempre capaz de transformar a angústia em nova energia. "Nem uma vez pensei desistir", garante Viktoria. O calor, as provas físicas, a exigência, dizer que foi fácil? "Não, não foi". Mas estava à altura do confronto. Entre o atletismo, o ginásio e a preparação psicológica, treinou-se a si própria antes de iniciar a recruta. E medo é uma palavra a que diz já não reconhecer o sentido. "Sinceramente, espero que não haja guerra, se alguém morre é sempre mau, claro que prefiro estar aqui em paz, mas se algum dia precisar de ir a algum país, eu vou".

"Servir Portugal no mar". O número de militares no activo baixou – 28 mil em Outubro de 2017, no conjunto dos três ramos, ou seja, 2 mil a menos do que o limiar mínimo definido pelo Governo – e a crise de efectivos é uma realidade. As Forças Armadas perderam 25% do pessoal, de 2005 para 2016. Por vários factores, incluindo restrições orçamentais, cortes no período da troika e revisão dos conceitos estrat&eacu

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