Sociedade

Prometida mais segurança para o Vale do Lapedo

22 fev 2022 19:19

Município de Leiria quer tomar medidas para evitar novos actos de vandalismo no sítio arqueológico

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Redacção/Agência Lusa

A Câmara de Leiria defendeu hoje medidas para a segurança para o sítio arqueológico onde foi descoberto o “Menino do Lapedo”, que foi alvo de vandalismo, com os vereadores da oposição (PSD) a argumentarem que após “casa roubada trancas à porta”.

“Continuaremos a acompanhar, a incrementar parcerias neste trabalho de valorização orientado não só para a interpretação do Vale do Lapedo, como também num contínuo trabalho de investigação e para se tomarem medidas com vista à segurança em torno de um dos mais emblemáticos sítios que integram o património arqueológico de Leiria, que é reconhecido internacionalmente”, afirmou a vice-presidente da Câmara, Anabela Graça, na reunião do executivo municipal.

No sábado, o município anunciou que o sítio arqueológico Abrigo do Lagar Velho, em Santa Eufémia, classificado em 2013 como Monumento Nacional, onde foi descoberto o esqueleto do “Menino do Lapedo” (classificado no ano passado, assim como os artefactos arqueológicos associados, como Tesouro Nacional), sofreu actos de vandalismo, tendo sido apresentada queixa à GNR e relatada a situação à Direção-Geral do Património Cultural e à Direção Regional de Cultura do Centro.

Segundo Anabela Graça, que tem o pelouro da Cultura, “o acesso ao sítio arqueológico está vedado ao público por um obstáculo natural” que condiciona a passagem, uma ribeira, e “por dois portões, um fechado à chave e outro com uma fechadura e uma corrente de cadeado”, observando que “desde 1998 que o sítio nunca registou qualquer acto desta natureza”.

A vereadora adiantou se aguarda por uma reunião com o diretor-geral do Património Cultural “no sentido de perspetivar, em termos de futuro, o que é que se pode e deve fazer”, considerando que “as entidades competentes serão muito importantes em termos desta parceria para a resolução do problema da segurança deste local”.

“Toda esta área pertence ao domínio de propriedade privada e, portanto, há que ter em conta todos estes condicionalismos, mas esta situação acabou por fazer com que se reflectisse sobre a segurança daquele sítio”, reconheceu, referindo que as autoridades competentes terão de, com a autarquia, “encontrar uma solução, porque têm essa responsabilidade”.

A autarca realçou ainda que “os danos causados pelo vandalismo” foram sobre “o denominado Testemunho Pendurado e não no ‘Menino do Lapedo’”.

O Testemunho Pendurado, com cerca de 60 cm de espessura, preenche uma fissura estreita e alongada, na parede de fundo do abrigo cortada pela terraplanagem, situada 1,2 a três metros acima da superfície artificial do terreno. Os depósitos vieram a revelar contextos arqueológicos datados entre 24 mil e 26 mil anos.

O vereador social-democrata Álvaro Madureira assinalou que “costuma-se dizer ‘casa roubada trancas à porta’”, notando que “só não entrava na zona de escavações e na zona sensível quem não queria”.

“As pessoas vão ali para visitar e depois deparam-se também com uma facilidade enorme de ir para o espaço sensível das escavações”, alertou Álvaro Madureira, defendendo que “o Vale do Lapedo tem de ter uma visão diferente” e desejou que a situação agora ocorrida “seja o princípio” para se começarem a tomar medidas.

De acordo com o vereador, há pinturas rupestres “naqueles estratos geológicos que podem, muito facilmente, desaparecer de um momento para o outro”.

“Não podemos deixar aquilo sem protecção. Temos de fazer uma intervenção quanto antes para protegermos o local”, insistiu, lembrando que os vereadores do PSD têm preconizado um plano a médio e longo prazos, “com reforço de meios humanos e financeiros” no estudo, na protecção e na promoção deste património e para o Vale do Lapedo.

Álvaro Madureira sustentou a necessidade de “um centro de interpretação adequado” e condigno, e não “contentores como estão lá desde há 20 anos”.

A mensagem de humanidade revelada pelo achado arqueológico “Menino do Lapedo”, um esqueleto com cerca de 29 mil anos descoberto em 1998, inspira a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027.

A descoberta marcou a paleoantropologia internacional, por se tratar do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica e porque a criança apresenta traços de 'neandertal' e de 'homo sapiens'.