Sociedade

A professora de Leiria que deixou o coração em Moçambique

11 nov 2017 00:00

Emília Marques recorda o trabalho, a dedicação e o medo vividos em África.

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Nasceu na localidade de Vale de Santa Margarida, no concelho de Leiria, mas ainda muito jovem foi com os pais para Moçambique. Depois de anos “intensos” naquele país, viu-se obrigada a regressar à aldeia que a viu nascer. Emília Marques, hoje com 67 anos, começou a ensinar em Moçambique e considera os tempos de África “os mais marcantes” da sua vida.

Quando foi para Moçambique viveu em Guijá, aldeia que viria a chamar-se vila Alferes Chamusca e, depois, cidade Trigo de Morais. Foi aqui que começou a frequentar o ensino primário. Mas, devido ao emprego do pai, a família mudou de localidade diversas vezes.

Após completar o 4.º ano, Emília Marques teve de parar de estudar porque a escola mais próxima da sua aldeia ficava a muitos quilómetros de distância. Contudo, passados quatro anos, a jovem confessou aos pais que gostava de voltar à escola.

Por essa altura começava o terrorismo em Angola, conta. O clima de medo e de insegurança que se instalou fez com que todos os residentes da aldeia onde vivia fossem embora. “O acampamento ficou vazio.”

Regressaram, então, à já chamada vila Alferes Chamusca. Tinha sido ali criado um colégio de freiras que pertencia à ordem de Santa Teresa de Menino de Jesus, onde Emília Marques completou, então, o 9.º ano de escolaridade. “Adorei aquele colégio. Foi um percurso que me deixou as grande amizades, aquelas que ficam para a vida toda.”

Após completar o colégio, foi para Lourenço Marques, actual Maputo, frequentar o Magistério Primário. “Havia qualquer coisa que não estava a ser feito [no ensino]. Havia coisas novas a ensinar aos miúdos.” Durante esses dois anos de formação, Emília Marques participou em diversas actividades, entre as quais, o teatro.

Terminou os estudos e começou de imediato a trabalhar. E é deste início de profissão que a professora tem memórias que jamais esquecerá. No primeiro ano de trabalho leccionou numa pequena sala que tinha “toros de eucalipto” a servir de banco para 85 alunos, divididos em cinco turmas. Crianças “que vinham do mato” e percorriam dezenas de quilómetros.

“Chegavam lá a escorrer suor, tão cansados, desidratados, mal alimentados, cheios de fome...” A maioria não sabia falar Português. Durante o Magistério Primário, recorda, aprendeu diversas técnicas para motivar os alunos. Mas aqueles “estavam mais do que motivados”. Eram crianças com “muitas carências, a todos os níveis” mas cheios de vontade de aprender, afirma Emília Marques.

Uma médica que visitou a escola detectou diversas doenças às crianças, entre as quais tuberculose, tinha e sarna. Fez alguns tratamentos e deixou medicamentos para que a docente pudesse continuar a ajudar os seus alunos. Emília Marques foi mais do que uma professora. Além de lhes ensinar a ler e a escrever, tratava-lhes das feridas, causadas pelas doenças. No caso da sarna, exemplifica, o cabelo das crianças tinha de ser rapado, o que deixava as feridas visíveis. “E eu pincelava as cabeças deles, com um produto que a médica tinha deixado”,

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