Sociedade

Pedro viveu “quase 30 anos” na rua. Agora, tem “uma cama em condições”

22 out 2020 12:58

São, para já, três os sem-abrigo a quem o projecto Morada Certa - Leiria Housing First deu um tecto, mas o objectivo é tirar das ruas da cidade todas as pessoas que vivem nessa condição

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Promovido pela InPulsar, com o apoio da Câmara e agora da Lusiaves, o projecto já deu tecto a três sem-abrigo
Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

Assim que Pedro abre a porta, Tintim, o cão de água que o acompanha desde a sua última fase de sem-abrigo, salta à nossa frente, como que a dar-nos as boas-vindas. Atrás de si, apresenta-se uma casa impecavelmente limpa e arrumada.

“Tenho de tratar do meu canto”, justifica.

O 'canto' a que Pedro Gonçalves se refere é o apartamento que, desde Fevereiro, ocupa, no âmbito do projecto Morada Certa - Leiria Housing First, promovido pela associação InPusar, com o apoio da Câmara e ao qual se associou agora o grupo Lusiaves, que visa retirar das ruas de Leiria todas as pessoas que vivem em situação de sem-abrigo.

Pedro viveu assim “quase 30” dos seus 42 anos. Não sabe bem quando nem como caiu nessa situação. É o mais novo de nove irmãos. Conta que passou a infância a “saltar” de escola em escola, sem concluir a instrução primária, e a adolescência a entrar e a sair de “casas de correcção”. Quando deu por si, a rua era a sua casa.

Dormiu debaixo de pontes ou sob plásticos, em edifícios abandonados ou na rua, 'protegido' por sacos de cimento. Viveu anos “agarrado à seringa”, subjugado ao vício, que alimentava com a actividade de arrumador de carros. Desceu onde nenhum ser humano devia descer.

“Já não podia olhar para a cara das pessoas”

Nos últimos anos, Pedro refugiou-se “no mato”, numa barraca feita com impermeáveis que lhe serviam de tecto, montada num pinhal nos arredores da cidade. “Já não podia olhar para a cara das pessoas”, assume, contando que chegou a um ponto em que não conseguia suportar a “desconfiança” e a “indiferença” de muitos com quem se cruzava nas ruas.

Muitos, mas não todos. Houve quem lhe desse a mão e não desistisse dele. Foi o que fez a InPulsar, cujos técnicos o acompanham há anos, no âmbito do projecto Giros na Rua, e que viriam a encaminhá-lo para o programa Morada Certa.

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