Sociedade

Paris depois dos atentados: choque e apreensão quanto ao futuro

14 nov 2015 00:00

A capital francesa é uma cidade em alerta máximo. Medo e choque entre os habitantes. O testemunho de quatro portugueses

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Raquel de Sousa Silva

Polícia e exército por todo o lado, controlo das auto-estradas, pouca gente nas ruas. É este o cenário descrito ao início da tarde ao JORNAL DE LEIRIA por José Gomes de Sá, director da Luso Press, publicação sediada no centro de Paris, onde ontem à noite vários atentados fizeram quase 130 mortos, entre eles um português.

“Tanta polícia intimida”, aponta Gomes de Sá, que nota entre os habitantes um sentimento de “apreensão quando ao que poderá acontecer”. E alguma desconfiança relativamente aos refugiados, entre os quais “temem haver jidahistas”. Os atentados já foram reivindicados pelo auto-proclamado Estado Islâmico.

Samuel Barbosa, 31 anos, vive a cerca de um quilómetro da zona de restaurantes e bares onde se registou um dos atentados. Na ocasião estava em viagem para Bruxelas, mas uma pessoa sua conhecida morreu no ataque.

Com a voz embargada, contou ao JORNAL DE LEIRIA que esta zona da capital francesa é muito frequentada, sobretudo ao fim-de-semana. “É como a Praça Rodrigues Lobo em Leiria”, compara o jovem designer, que tem raízes no concelho.

“Vamos continuar a sair à noite, a ir aos mesmos sítios, não nos podemos deixar quebrar”, refere Samuel Barbosa, que acredita que os parisienses “não vão fazer uma campanha de ódio contra os muçulmanos, que sabem distinguir dos terroristas”.

Admite, no entanto, que poderá não ser assim em toda a França e que a Frente Nacional poderá nas próximas eleições capitalizar votos com os sentimentos de ódio que surjam entre os franceses.

Com raízes no concelho de Pombal, Tony Ruivo vive a 20 quilómetros da capital francesa, mas também sente o “ambiente pesado”. Diz que “as pessoas têm medo de sair”, “vê-se polícia por todo o lado e ouvem-se sirenes”.

“Sabemos que as zonas de Paris onde ocorreram os atentados estão fechadas. E que muitos eventos foram cancelados. Hoje à noite deveria ir a um concerto, mas foi cancelado. As indicações que temos é para não irmos para Paris”.

“Descobrimos que estamos em guerra. Levantámo-nos com um sentimento de medo”, diz Tony Ruivo. “Eu próprio já fui ao Bataclan várias vezes. Ontem estavam lá dois amigos, que felizmente conseguiram fugir”. O jovem entende que os autores dos atentados escolheram esta zona da cidade “porque há lá sempre muita gente”. “Estamos todos chocados”.

“A cidade está em alerta máximo, com polícia e exército por todo o lado”, confirma Ricardo Rodrigues, que esta noite tem de apanhar um avião e não sabe ainda se não haverá constrangimentos nos voos.