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Palavra de Honra | “Questiono-me se... não deveria haver eleições autárquicas todos os santos anos”

16 ago 2021 10:58

Cecília Malheiro, jornalista

Cecília Malheiro
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Detesto... viver numa sociedade machista, num sistema judicial patriarcal, e ver empresas e instituições públicas onde as mulheres, quase sempre chefiadas por homens, ainda ganham menos do que os homens por trabalho igual, tendo as mesmas ou mais competências literárias. Detesto também observar que há mulheres que conseguem ser ainda mais machistas do que muitos homens, esquecendo a “sororidade feminina” e piorando o estado das desigualdades de género em Portugal. 

A ideia... do assédio sexual e da violação das mulheres e meninas, a ideia de alguns homens julgarem que podem destabilizar a paz e a harmonia de uma mulher que circula na rua, a ideia de que passaram mais de 30 anos desde que um indivíduo, em cima de uma bicicleta, me apalpou, magoou quando eu me dirigia para uma aula na Escola Secundária de Pombal e depois fugiu, mete-me repulsa e sinto mágoa. Mas a ideia de que as nossas filhas continuam à mercê desta sociedade machista e que, infelizmente, vão continuar a ter de passar pelo mesmo tipo de crimes, causa-me revolta. Prometo lutar contra isso. Denunciar sempre. Esses actos nunca passarão impunes à minha frente.  

Questiono-me se... não deveria haver eleições autárquicas todos os santos anos, neste retangulozinho à beira-mar plantado. As obras municipais que, a cada quatro anos, são destapadas cirurgicamente um mês ou dois antes das ditas autárquicas, para mostrar ao povinho que se fez alguma coisa, mesmo que ainda não se possam inaugurar! As ruas esburacadas são alcatroadas como uma verdadeira auto-estrada, as passadeiras são pintadas de fresco, as árvores podadas, as flores regadas, a relva aparada e, imagine-se, alguns artistas até conseguem a lançar um livro, dar um concerto ou estrear uma peça de teatro. Que belos municípios teríamos se as eleições autárquicas acontecessem todos os santos anos…
Adoro... sonhar contigo, pai. Adoro quando vamos os dois almoçar ao Fontão, na Castanheira de Pera, para cozinhares para mim um belo cabrito assado. Adoro sonhar que estás sempre aqui, comigo, a proteger-me. Adoro saber que és o meu anjo da guarda, porque tenho a certeza que já me salvaste a vida várias vezes. 

Lembro-me tantas vezes... de que quando era adolescente e tinha de ajudar a família a apanhar azeitona para a levar ao lagar e tinha de arrumar lenha para a lareira aquecer a casa, antes de ter autorização para poder sair à noite com os amigos nos frios fins-de-semana de Inverno. Se ficava de mau humor? Muito. Se dizia mal da vida? Sempre. Se pensava que deveria ser a única rapariga a ter aquela triste sina? Verdade. Mas o que não nos mata, torna-nos mais fortes. E hoje, cá estou eu, com histórias de infância e adolescência originais a valer! Não são melhores, nem piores do que as histórias dos outros adolescentes. São as minhas, são as que me moldaram. E essas ninguém as pode usurpar.

Desejo secretamente... que o planeta Terra saiba bater-se contra as alterações climáticas e nasçam exércitos de crianças sábias que saibam colocar de lado a vida fácil dos países ricos, a dependência das redes sociais, para combaterem por um mundo mais verde, mais amigo do ambiente, usando como armas as energias renováveis.

Tenho saudades... de receber uma carta de amor, um telegrama a anunciar o nascimento de primo novo ou um postal de Boas Festas no Natal. Tenho saudades de brincar na rua da minha infância – a Avenida Heróis do Ultramar, em Pombal – com o ioiô da Coca-Cola e com a bota Botilde. Tenho saudades de namorar no Castelo de Pombal, longe da vista dos mais crescidos e de pensar que iria mudar o mundo. Tenho saudades dos amigos e colegas da escola que foram levados em plena flor da idade. Da Virgínia, do Bruno, do João Filipe.  

O medo que tive... quando vi o Trump e o Bolsonaro subirem ao poder nos EUA e no Brasil. O medo que tive por a Democracia estar em perigo. Mas o medo não comanda a vida e nunca é de mais sonhar, porque é dos medos que vamos ganhando força, para combater estes tristes senhores que pensam que mandam no Mundo.

Sinto vergonha alheia... quando alguém escreve numa SMS ou numa conversa num ‘chat’ qualquer de uma rede social: “trás-me aquele livro!” Socorro TRAZ-ME os meus calmantes, digo eu!

O futuro... constrói-se no presente. Por isso, senhores presidentes dos municípios  que ganharem as próximas autárquicas, comecem já a pensar dos Jogos Olímpicos de 2032, na cidade australiana de Brisbane, e a delinear os planos e as estratégias para haver campos de treino, treinadores, psicólogos e apoios às crianças de hoje.

Se eu encontrar... os números do próximo Euromilhões, prometo doar uma boa parte à ciência para descobrir a cura das doenças raras, do cancro e das doenças mentais.

Prometo... que vou tentar aprender a andar de skate e tentar os Olímpicos de Paris. Se não conseguir vou dedicar-me ao breaking, que é a modalidade desportiva aceite para participar nos Jogos Olímpicos em 2024, em França.

Tenho orgulho... na comida portuguesa, no vinho português, na moda portuguesa, no calçado português, no clima e nas paisagens naturais portuguesas e muito, muito orgulho na arte portuguesa e nos nossos artistas.