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Palavra de Honra | Chegámos ao futuro e é tudo menos espetacular do que nos prometiam.

22 nov 2021 10:09

João Pedro Coutinho, arquitecto e ilustrador

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- Já não há paciência … para programas de televisão passados em terras que duram um dia inteiro, com números a um euro mais IVA para se ligar. Ou para programas com pessoas fechadas dentro de uma casa e que  vivem numa realidade paralela. Ou para programas onde tentam conquistar agricultores.

- Detesto … pagar por um café e servirem-me uma água choca. É necessário respeitar o direito fundamental a acordar efectivamente.

- A ideia … de um mundo em que foi possível chegarem aos cargos máximos dos seus países figuras como George W. Bush, Trump, Bolsonaro, e outros desse calibre, ainda não a encaixei totalmente.

- Questiono-me se … as pessoas que vão a conduzir sozinhas no carro e levam a máscara posta, terão compreendido bem a mensagem.

- Adoro … poder dormir a sesta depois de almoço.

- Lembro-me tantas vezes … do Dartacão. Eram tempos verdadeiramente excitantes, o futuro não existia e tudo se resolvia pegando num galho seco com a forma de uma espada.

- Desejo secretamente … um mundo em que não existam programas de comentário futebolístico. Já que estou a desejar, também desejo que não hajam de comentário político. No fundo desejo um mundo em que não tenham que chamar especialistas para nos explicar a realidade.

- Tenho saudades … do tempo em que não era necessário ter um caderno com 10 páginas preenchidas com dados de login e passwords de uma centena de sites, apps e portais em que estou registado.

- O medo que tive … da última vez em que julguei ter perdido o caderno. Felizmente que o voltei a encontrar. Entretanto já tinha redefinido a password de uns quantos serviços...

- Sinto vergonha alheia … das pessoas que são obrigadas a contactar-me para saber se quero mudar de fornecedor de electricidade, de telecomunicações, se quero outro seguro, ou mais algum dinheiro a uma taxa simpática.

- O futuro … era um horizonte longínquo. Fazíamos as contas a que idade teríamos no ano 2000. Sonhávamos com carros voadores, teletransporte. Afinal já lá chegámos e é tudo menos espetacular do que nos prometiam.

- Se eu encontrar … 50 euros perdidos nos bolsos de umas calças, em vez de ir atestar o depósito para recuperar cinco euros, pago uma rodada aos amigos.

- Prometo … não recorrer a promessas para fazer as coisas que quero fazer.

- Tenho orgulho … apesar de tudo, de viver neste canto à beira mar plantado, da nossa arte de improvisar e de usar esta língua bonita.