Sociedade

Pais devem ser o porto de abrigo

27 jan 2017 00:00

Pediatra alerta para a dependência dos jogos electrónicos.

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Os sintomas do consumo de estupefacientes dependem do tipo de droga utilizada, mas os mais frequentes são a “alteração do comportamento, dificuldade em falar e de coordenar os movimentos, incluindo instabilidade no andar”, informa Bilhota Xavier.

Sem informação sobre o aparecimento de novas drogas na urgência, o director da Pediatra do Centro Hospitalar de Leiria sublinha que profissionais de saúde, educadores e pais têm de estar preocupados com “a dependência cada vez maior das crianças” dos jogos electrónicos e redes sociais.

“Permanecem horas e horas ligados, chegam a interrom- per o sono nocturno para iniciar a sua 'actividade social', mas cada vez mais isolados dos amigos e em solidão, com todas as consequências que daí podem advir.”

Diminuição do rendimento escolar, passarem mais tempo fechados no quarto, evitarem fazer as refeições com a família, menos comunicativos, pensamento menos estruturado e parecerem mais tristes e ansiosos são alguns dos sintomas a que os pais devem estar atentos, assim como o aparecimento, sem causa aparente, de olhos vermelhos.

Bilhota Xavier acrescenta que não se deve ignorar quando descobrem que o filho fuma uns 'charros'. “Os pais devem tentar perceber quais as razões que levaram ao consumo, qual o grupo de amigos em que se integra e que podem estimular esses consumos. Os pais não podem nunca deixar de ser o porto de abrigo dos seus filhos. A adolescência é uma fase difícil, em que o adoles- cente é habitualmente confrontado com mais opções do que aquelas que pode tomar, numa idade em que é mais apetecível agir que reflectir.”

Nestas idades “não é fácil ser assertivo” e “o prazer imediato está logo ali, a sensação de poder melhorar a imagem perante os seus e a vontade de se sentir mais velho”. Por outro lado, há também a “dificuldade de enfrentar a pressão para ser o melhor, cada vez mais estimulada em idades mais precoces”.

A legalização do haxixe continua a ser controversa e não existem consensos. “Mas não pode deixar de preocupar que para se conseguir ultrapassar os medos, a baixa auto-estima ou a necessidade de afirmação, se tenha de enveredar pelos consumos de produtos, que não sabemos onde nos vão levar. No curto prazo, diminui reflexos e capacidade cognitiva. O consumo continuado pode provocar, no longo prazo, o isolamento e a depressão”, adverte.

Cristina Cardoso, responsável pelo CRI de Leiria, alerta para a quantidade de jovens medicados para a hiperactividade e défice de atenção, “quando alguns são apenas desatentos e a procurar lidar com situações emocionais”.

 

João Goulão, director-geral do SICAD
Canábis é a droga mais popular

Quais as drogas mais consumidas entre os jovens menores?
A droga mais consumida é a canábis. Com valores bastante inferiores, o ecstasy e as anfetaminas.

Qual a idade média em que se iniciam os consumos? E com quem o fazem habitualmente?
Segundo III Inquérito Nacional ao Consumo da Substâncias Psicoactivas na População Geral – Portugal, os consumos iniciam-se, com maior incidência, aos 16 anos e normalmente com o grupo de pares.

O número de jovens que consome drogas tem aumentado?
Os estudos mais recentes indiciam uma ligeira diminuição da prevalência dos consumos nalgumas substâncias e estagnação noutras. 

Em relação a outros países da Europa, os jovens portugueses con- somem mais, menos ou idêntico?
Idêntico.

Quais as drogas mais populares entre os jovens?
Canábis e, com prevalências muito mais baixas, ecstasy e anfetaminas. 

O que leva os jovens a iniciar os consumos?
Curiosidade, escape, “sentir-se bem”, relaxar.

Têm aparecido novas drogas? Quais?
Em termos dos estudos efectuados não. Apenas existem algumas novas variantes das denominadas novas substâncias psicoactivas (NSP).

O que mais preocupa o SICAD?
Continuar a monitorizar os dados relativos aos comportamentos aditivos e dependências, nomeadamente no tocante aos factores inerentes ao uso/abuso de drogas ilícitas, do álcool e de novos fenómenos emergentes das também denominadas dependências sem substâncias (jogo, internet, e dispositivos móveis). Para além disso, criar condições para a existência e para a qualidade de respostas no âmbito da prevenção, dissuasão, redução de riscos e minimização de danos, tratamento e reinserção.