Viver

Onze meses em cima de um selim pela Ásia afora

22 dez 2016 00:00

No ano em que Filipe Cruz, professor de Educação Física, há 14 anos, no Colégio Nossa Senhora de Fátima, em Leiria, fez 36 anos, decidiu que estava na hora de embarcar numa grande aventura.

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Jacinto Silva Duro

Desde pequeno que se sentia fascinado por viagens e a ideia atropelou-o como se fosse um autocarro. Iria tirar um ano sabático do trabalho e pedalar por mais de uma dezena de países, sem rede de segurança e sozinho, numa experiência pura, que não envolvesse grupos organizados, reservas e recintos de férias para turistas ricos.

A semente, acredita, foi o livro As Rosas de Atacama, do chileno Luis Sepúlveda, que deixou em Filipe a vontade de pôr uma mochila às costas e sair porta fora. "O livro contém a história de um conjunto de pessoas que o autor conhece ao longo da vida e coloca naquelas páginas. Mas ele fala de tantas pessoas que só poderia saber delas se tivesse estado naqueles sítios todos. Senti vontade de fazer o mesmo. Não foi um sonho que apareceu há muitos anos, mas antes um sonho que foi crescendo e tomando forma, até que, um dia, a solução mais lógica apareceu: ‘por que não parar um ano de trabalhar e ir viajar?’"

Quando a ideia passou a acto, a América do Sul e a Ásia foram as opções em cima da mesa. O professor de Educação Física acabou por escolher a segunda hipótese. O fascínio por aquele destino exótico venceu a competição. "Entre países também é tudo muito diferente.

Lembro-me de pensar nisso à medida que passava do Sudeste asiático para o Nepal, daí para a Índia e Irão." Com tanto tempo parado entre etapas, o contacto com os habitantes locais foi um privilégio demorado.

"Vi paisagens espectaculares, mas o que mais me encantou foi conhecer as pessoas e a bicicleta proporcionava isso, porque as pessoas olham-nos com respeito e não como 'mais um turista'.

Chamavam-me muitas vezes porque me viam em cima do selim, sozinho." Isso também lhe proporcionou a possibilidade de ir a locais incomuns, onde as pessoas não estão habituadas a ver turistas. “Achamos que somos um povo acolhedor, mas não somos. Nem há comparação com aquilo que me ofereceram."

Problemas com a polícia em Myanmar
Os momentos mais complicados, viveu-os em Myanmar, antiga Birmânia. Até há pouco tempo, o país era governado por um regime militar autoritário, mas começou a abrir-se ao turismo recentemente.

No entanto, as autoridades proíbem as gentes locais de albergar estrangeiros em suas casas e também não é permitido acampar. "Para um ciclista, isto é um problema, especialmente, quando se chega a um hotel e recusam a deixar- nos entrar, por estarem lotados ou por outra razão. Sei que precisam de uma autorização nas zonas não turísticas. Houve um dia em que me recusaram em sete hotéis. Passei o dia a pedalar em busca de um sítio onde ficar.Já de noite, pedi ajuda à polícia. Disseram-me que deveria ir a um determinado hostel e dizer-lhes que eles tinham dito para me aceitarem. Mas em vez de passaporte, eu só tinha um recibo, porque tinha deixado o meu na embaixada da Índia para pedir o visto. E, claro, no hostel, disseram que não me aceitavam. Regressei à polícia e tentei explicar, numa mistura de Inglês e Português, o que se passava."

Viajar com calma
Durante 11 meses, Filipe Cruz, que é natural da Lourinhã, viajou por 11 países da Ásia, ao ritmo de um por mês. Como veículo preferencial, elegeu a bicicleta. Começou o périplo na Tailândia. Foi ali que pedalou os primeiros dos 11 mil quilómetros que lhe passaram pelos olhos."Pode parecer muito, mas não é. Conheci quem tivesse feito 28 mil. Quis levar as coisas com calma e usufruir. Fiquei cerca de um mês em cada um dos países."

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