Desporto

Morcela de arroz e brisas do Lis a 1.662 quilómetros de distância

3 nov 2015 00:00

André Fontes é profissional no Lusitanos de Saint-Maur

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Faz em 2016 cinco longas décadas que nasceram dois dos mais emblemáticos clubes que representam a região. Um, todos sabem, é a União Desportiva de Leiria

O outro está mais longe, mas a intensidade com que se vive aquele símbolo não é, com certeza, menor. Perto de Paris, o Lusitanos de Saint-Maur teve, tem e terá um papel decisivo na valorização do que representa Portugal na comunidade emigrante.

As ligações são fortes, não esmorecem e este ano a equipa sénior de futebol até tem um atleta profissional que é da região, de seu nome André Fontes.

Tudo começou no início dos anos sessenta do século passado, durante o período do Estado Novo. Muitos portugueses, insatisfeitos com a mordaça e com a pobreza, resolveram fugir a salto para França.

Imensas pessoas de Leiria chegaram a Saint-Maur des Fossés, a sete quilómetros de Paris, onde havia uma fábrica que lhes dava trabalho. Tinham emprego e liberdade, mas faltava-lhes o convívio, pelo que um grupo de emigrantes, com José Guarda, Joaquim Clemente, Joaquim Bártolo e José Lebre à cabeça, resolveu fundar, em 1966, a União Desportiva de Lusitanos.

Os anos passaram, mas as ligações afectivas não desapareceram. O empresário Armando Lopes, natural de Urqueira, Ourém, liderou o emblema durante mais de três décadas. Agora é Arthur Machado que traça os destinos do Lusitanos. Nasceu no “hospital velho de Leiria”, a mãe era de Fátima e o pai de Santa Catarina da Serra.

Como eles, grande parte dos dirigentes e dos treinadores têm uma qualquer ligação a Portugal, mas este defeso chegou a França um atleta que simboliza com perfeição a idiossincrasia do clube.

Aos 25 anos, André Fontes aventurou-se. O atleta de Fátima cumpriu a formação entre a União da Serra e a União de Leiria e enquanto sénior representou o clube de Santa Catarina, o Atlético Ouriense e o Fátima.

Agora, com a licenciatura em Biomecânica concluída, resolveu tentar a sorte no mundo do futebol profissional. “O meu pai sempre quis era tirasse um curso superior e depois, então, podia tentar algo no futebol. E assim foi: acabei há dois anos e tenho dado o melhor para chegar o mais longe possível e concretizar o sonho de muitos miúdos”, explica André.

A possibilidade de ser profissional em França surgiu através de um empresário. “Os valores praticados são muito superiores aos que se praticam no Campeonato de Portugal e em alguns clubes da 2.ª Liga. Por isso, resolvi arriscar”, revela.

O Lusitanos de Saint-Maur joga na CFA2, uma espécie de 5.ª Divisão. “As equipas são equivalentes às melhores do Campeonato de Portugal e a algumas da 2.ª Liga”, salienta André Fontes.

A experiência tem sido “muito rica”. Jogar neste clube, que equipa de vermelho e verde, é quase como fazê-lo em Portugal. “Os adeptos são muito atenciosos connosco. Estão sempre preocupados com os portugueses e tentam fazer com que nos sintamos em casa. Querem saber de onde somos e quais são as nossas raízes e tentam ajudar-nos.

Mal cheguei indicaram-me logo onde existiam mini-mercados que vendem produtos portugueses e quando foi preciso abrir uma conta indicaram-nos uma portuguesa que trabalhava num banco para termos maior facilidade.”

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