Abertura

Metade do negócio na praia foi por água abaixo. Metade ou mais.

6 ago 2020 10:41

A perda de poder de compra e o medo, resultantes da pandemia, estão a causar estragos avultados em todas as áreas de negócio nas praias da nossa região. Ao JORNAL DE LEIRIA, os empresários reportam perdas entre 50% a 70%

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Praia da Nazaré
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

Em pleno Verão, quem tem negócio aberto na praia já faz contas à vida. A Covid-19 deixou muitos portugueses sem trabalho e outros tantos, que mantiveram o seu emprego, viram mesmo assim o seu poder de compra ficar reduzido devido à pandemia. Até quem ainda tem algum dinheiro para despender nas férias está com receio de frequentar locais movimentados.

E sem o forte impulso que todos anos é assegurado pelos turistas estrangeiros, todos os negócios de praia se ressentem. E muito. Ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA, os empresários falam de quebras de 50% a 70%, sendo que, para alguns, esta poderá ser mesmo a última época em actividade.

“Ontem, durante todo o dia, só tive uma mesa ocupada no restaurante”, relata Nuno Fonseca, gerente da pizaria Costa Verde, na Praia da Vieira. Com casa aberta há cerca de uma década, o empresário diz que o seu negócio nunca viveu tempos tão difíceis, nem mesmo durante os tempos da famigerada austeridade.

“Só não fecho a pizaria às 21 horas por vergonha”, admite Nuno Fonseca, que aponta quebras de vendas de “60% ou 70%” face ao ano passado. “Trabalha-se ao fim-de-semana e pouco”, nota o empresário, para quem a única salvação tem sido o serviço de take away. Sem os espanhóis que habitualmente ficam instalados nos hotéis da praia, não são os portugueses, sobretudo agora em fase de maior contenção, que estão dispostos a fazer refeições fora, aponta Nuno Fonseca.

A Covid-19 veio impor várias regras. O distanciamento e a redução do número de mesas no restaurante é uma delas. Mas, lamenta o dono da pizaria, “eu nem estou a precisar de tantos lugares”.

Na porta ao lado, também a gerente do restaurante Darpaladar fala de uma quebra no negócio situada nos 70%. E tal como Nuno Fonseca, também Carolina Quiaios sente a falta dos estrangeiros na Praia da Vieira. “Agora só conseguimos encher a sala ao domingo”, relata a jovem, que em todas as ocasiões passou a ouvir 'uma dose dá para quantos?'.

“No ano passado empregávamos oito a nove pessoas. Este ano empregamos quatro e uma quinta que ajuda em part-time”, compara Carolina Quiaios. “Se no Inverno não há gente e se no Verão não há movimento que chegue para compensar o Inverno, em Setembro entrego as chaves”, expõe a gerente.

Na Praia da Nazaré, qualquer que seja o negócio, o panorama é o mesmo. Ao balcão da Carbel, loja de artesanato que este ano celebra cinco décadas de actividade, Carlos Vicente fala de uma redução no número de turistas estrangeiros e de turistas portugueses também. Ainda não fez bem as contas, mas garante que o negócio teve uma quebra muito significativa. As suas esperanças recaem agora sobre o mês de Agosto, mas o lojista reconhece que, mesmo havendo algum aumento de movimento face a Julho, este será sempre um Agosto de um ano atípico.

É de um ano atípico que nos fala também Alfredo Vicente, proprietário do restaurante Adega Oceano e do Hotel Oceano, ambos situados na avenida marginal à Praia da Nazaré. À frente deste negócio herdado da família, e que já explora há cerca de 30 anos, Alfredo nunca registou um período tão mau. “Temos uma quebra de 50% em comparação com Julho do ano passado”, estima o empresário, ciente de que, mesmo melhorando um pouco em Agosto, este mês nunca chegará aos valores de 2019. Também nesta praia são poucos os estrangeiros e os emigrantes.

A maioria da procura é nacional, aponta o empresário. “Uns não viajam por medo e outros devido à quebra do poder de compra”, supõe Alfredo Vicente. Aqui, as mudanças trazidas pela pandemia são notórias. E não foi apenas o número de mesas disponíveis para comer que ficou reduzido. Das 40 pessoas que o hotel e o restaurante empregavam, mantém- se agora em actividade uma equipa de apenas 25 elementos. “É uma quebra generalizada, segundo me dizem os colegas”, lamenta o empresário.

Nem o tempo ajuda

Sentado à entrada da loja, Armando Martins vê quem passa pela Praia de Paredes da Vitória. No estabelecimento que gere há 25 anos com a esposa, Anabela Martins, o comerciante tem de tudo o que faz falta a quem queira estender a toalha no areal: chinelos, jornais, revistas, tabaco... mas são este ano muito menos aqueles que passam e muito menos aqueles que compram. “Nota-se uma quebra de cerca de 70% em comparação com o ano passado”, estima Armando Martins. Só no fim-de-semana é que há mais movimento, nota o comerciante, que justifica esta redução com o medo e com a perda de poder de compra resultante da pandemia. Aumentar os lugares de estacionamento poderia ajudar, porque deixar o carro longe do areal também demove muitos de escolher a Praia de Paredes da Vitória, defende o comerciante.

O final de Julho nem sempre teve os dias mais rasgados de sol, mas, sublinha Armando Martins, em anos anteriores a meteorologia também foi incerta e, mesmo assim, havia mais gente na praia. Do seu ponto de vista, em Agosto o cenário poderá ser ainda pior. Temendo que a zona possa ser muito movimentada, e que isso agrave o risco de contágio de Covid-19, até podem ser mais aqueles que ficam em casa do que aqueles que se deslocam à Praia de Paredes, acredita o comerciante. Aos 60 anos,

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